O legado de Farkas

A mostra 'Uma Antologia Pessoal' reafirma a importância do fotógrafo que morreu dia 25

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Por Redação
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A exposição Thomaz Farkas: Uma Antologia Pessoal, em cartaz no Instituto Moreira Salles, prorrogada até o dia 1.º de maio, reúne 40 anos de fotografia desse fotógrafo, cineasta, empresário e incentivador da arte brasileira que se foi na sexta-feira, dia 25 de março. Perde a fotografia, perde o cinema, perdem as artes de forma geral.

 

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Thomaz Farkas marcou sua vida como grande incentivador do Brasil, dos brasileiros. Parte dessa sua ideia pode ser vista nesta mostra, com cem imagens, muitas inéditas, que foi trabalhada durante dois anos por seus filhos João e Kiko Farkas, e pelo conjunto de pesquisadores e curadores do Instituto Moreira Salles.

 

Farkas nasceu na Hungria em 1924, aos 6 anos veio para o Brasil, onde seu pai tornou-se um dos sócios-fundadores da Fotóptica. Dois anos depois, aos 8, Thomaz ganhou sua primeira câmera e durante os seguintes muitos anos, fotografou tudo o que via pela frente. Hábito que, na verdade, guardou até poucos dias antes de ser internado, depois do carnaval, no Hospital Sírio-Libanês em São Paulo.

 

Na exposição podem ser vistas imagens que ele produziu a partir da década de 1940, quando se inscreveu no Foto Cine Clube Bandeirantes e se revelou - ao lado de fotógrafos como Geraldo de Barros, German Lorca, Marcel Giró - um dos expoentes da fotografia moderna brasileira. Uma fotografia que busca referências nas vanguardas europeias e norte-americanas e apresenta novas formas de olhar e construir a imagem.

 

Não uma composição naïf - seguidora do pictorialismo ingênuo das naturezas-mortas e das marinhas - mas uma imagem viva, pujante, que segue a modernização das cidades. Uma construção geométrica criada nas luzes, nas sombras, nos cortes inovadores e pontos de vista inusitados. Uma imagem que não acalma, mas desafia o olhar.

 

Também nesta exposição estão reunidos trabalhos posteriores, com uma abordagem mais humanista, quando Thomaz procurou se aproximar do documental, fotografando, por exemplo, o Rio de Janeiro e sua vida nas praias, os moradores de bairros populares e a inauguração de Brasília.

 

Os amigos. Ironicamente, durante anos ele escondeu esse seu lado fotógrafo que somente se tornou mais conhecido a partir de 1996, quando ele publicou pela DBA, seu livro Thomaz Farkas, Fotógrafo, uma iniciativa de sua colaboradora e curadora Rosely Nakagawa. A parti daí, o baú abriu-se e as fotografias de Thomaz Farkas começaram a brotar, narrando a história do Brasil, a construção de Brasília, uma expedição pelo Rio Amazonas, com seu amigo o poeta e biólogo Paulo Vanzolini, a cidade de São Paulo, os amigos, os cães: Filé, seu grande companheiro, vira-lata caiçara de Paraty e, ultimamente, a Chica, uma beagle que o seguia feito uma sombra. Tudo era motivo para uma foto.

 

Mas Thomaz Farkas não se contentou com isso. Queria mais. Queria trazer à tona o olhar dos inúmeros fotógrafos brasileiros que nas décadas de 1970 e 1980 criaram a excelência da fotografia brasileira. Abriu a Galeria Fotóptica e por ela passou quase que a maioria dos fotógrafos que hoje - cheios de sucesso - estão nas páginas, revistas e mostras da cidade: nomes como Claudio Edinger, Cassio Vasconcellos e até mesmo Sebastião Salgado. Fundamental também foi a revista Fotóptica, que imortalizou as mostras e a fotografia brasileira. Uma revista que marcou época quando a fotografia ainda não invadia de forma tão contundente o mercado da arte brasileira.

 

Thomaz Farkas sempre esteve presente aos festivais de fotografia. Sempre se levantava e pedia um viva para a fotografia brasileira. Quase um grito de guerra que se calou no último fim de semana. Mas a obra de Thomaz é imortal. Ele deixa um legado de discípulos que com ele aprenderam a contar histórias. Quando morreu o fotógrafo também húngaro André Kertész, em 1985, Cartier-Bresson afirmou: "Todos devemos algo a Kertész". Hoje, os fotógrafos brasileiros sabem que devem alguma coisa a Thomaz Farkas.

 

QUEM ÉTHOMAZ FARKASFOTÓGRAFO

 

Nascido na Hungria em 1924, ele atuou também como professor, produtor e diretor de cinema. Integrou o lendário Cine Clube Bandeirantes e fundou a pioneira revista Fotóptica.

 

THOMAZ FARKAS: UMA ANTOLOGIA PESSOALInstituto Moreira SallesRua Piauí, 844, tel. 3825-2560. Higienópolis. De 3ª a 6ª, 13h/19h. Sáb. e dom., 13h/18h. Até 1º/5

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