O lado risível do jogo amoroso

Mario Viana explora relacionamentos na comédia Vamos?

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Por Maria Eugenia de Menezes
Atualização:

Montada mais de uma centena de vezes, em cerca de 30 idiomas, a obra Closer, do inglês Patrick Marber, arrebata plateias do teatro e do cinema desde 1997, quando foi escrita. O enredo que tanto atrai o público se debruça sobre os infortúnios de quatro personagens e evoca os componentes típicos dos relacionamentos conjugais - ciúme, traição, desentendimentos.

 

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Na peça Vamos?, que tem estreia marcada para hoje no Teatro Imprensa, os elementos que sustentam a trama até parecem bastante semelhantes aos do texto britânico: um par de homens e outro de mulheres às voltas com os entreveros do amor. O jogo instaurado pelo dramaturgo paulistano Mario Viana, porém, subverte essa ordem e transforma tudo aquilo que poderia soar como drama em comédia.

 

 

 

Vamos? Discussão de relacionamentos e comportamentos universais

 

Dirigida por Otavio Martins, a montagem traz quatro atores: Dalton Vigh, Tania Khalil, Alex Gruli e Rachel Ripani revezando-se em apenas dois papéis: uma dupla de amigos em que um tenta convencer o outro a fazer sexo.

Na primeira cena, o público pode até ter a impressão de estar diante de uma situação convencional. É conforme os conflitos de interesses entre ambos se instauram - um quer ir para cama; o outro, não - que o texto se desdobra. O personagem que era inicialmente um homem e tenta seduzir a amiga, transforma-se em mulher no diálogo seguinte. E o mesmo vale para o inverso. As trocas de gênero dos protagonistas, identificados apenas como "A" e "B", repetem-se indefinidamente. Suas posições, contudo, pouco oscilam: "A" defende o direito à aventura e a flexibilidade do amor. Já "B" acredita no casamento e não vê sentido em macular uma amizade com um caso.

"Queria fazer uma peça que discutisse relacionamentos em todas as suas possibilidades. Mas, daí, acabei colocando tudo em uma história só", comenta o autor, que pretende questionar as pretensas particularidades de cada sexo e compor um painel sobre a fluidez do amor em tempos contemporâneos. "No fim das contas, fica claro que as diferenças não são tão grandes assim. Quando estamos interessados por alguém, não importa se por um homem, uma mulher ou um bichinho de pelúcia, o comportamento e as questões são basicamente os mesmos."

Estratégia de convencimento. Não é a primeira vez que Otavio Martins e Mario Viana trabalham juntos. Antes, já repetiram a parceria em Vestir o Pai. Mas foram necessários quase oito anos para que o diretor convencesse o autor a lhe ceder os direitos do texto, escrito em 1999 e nunca montado profissionalmente em São Paulo. Antes desta, a peça já teve outras duas versões. Ambas um pouco mais adocicadas e menos "cínicas", conforme aponta Viana.

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"São poucos os dramaturgos que sabem escrever para atores", elogia Martins, que também é intérprete e concorre ao Prêmio Shell de melhor atuação por Side Man. "É um texto de comédia muito inteligente, que foge do vaudeville mas também se apropria dele." Não é sempre, porém, diz Viana, que essa coloquialidade que empresta a seus diálogos é bem-vista: "Como é fácil de falar e fácil de ouvir, muitos me tacham de superficial. Não sabem quantas situações estranhas e complicadas se colocam por trás dessa facilidade", diz o dramaturgo, que assina outros espetáculos de apelo popular, como Carro de Paulista.

 

VAMOS? Teatro Imprensa.

Rua Jaceguai, 400Telefone: 3241-42036ª, 21h30; sáb., 21h; dom., 19h. Preços: R$40 e R$50Até 28/11

 

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