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O jardim de inverno de Paris

Em sua semana de alta-costura, a capital francesa evocou flores e cores

Por Flavia Guerra
Atualização:

    Um imenso leão em pleno Grand Palais, performance da musa burlesca Dita Von Teese, mulheres-flores, festa na mansão de Valentino ao som do "DJ, modelo e namorado de Madonna" Jesus Luz. Assim foi a última Semana de Alta Costura Outono/Inverno Paris 2011, que terminou na quinta-feira.

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Se a função da alta-costura é criar sonhos, a tarefa anda difícil de ser cumprida em tempos de crise europeia. Para completar, a moda se rende cada vez mais ao apelo imediatista da fast fashion. Neste mundo sobra ainda espaço para a fábrica de sonhos parisiense? Há quem diga que os papas da moda mundial conseguiram dar conta do recado e justificar os milhares de euros gastos pelas "altas consumidoras", que todos os anos vestem seus melhores tailleurs para assistir aos desfiles de maisons como Chanel, Dior, Valentino, Givenchy, Armani. Há quem que, como a crítica do New York Times, defenda que a "haute couture" "vem encolhendo tal qual o manequim dos fashionistas eternamente em dieta".

Grandiosa ou mais prét-à-porter do que o esperado, o fato é que a Semana de Paris ainda é capaz de trazer um leão de 25m e sete toneladas (com uma megapérola sob a pata esquerda) como o abre-alas de seu inverno 2011. O estilista à frente da grife, Karl Lagerfeld, contou que o bibelô era uma réplica de um leão de bronze que a criadora da grife tinha em casa. Detalhe: Coco era leonina.

Na onda do "inverno colorido", a Chanel entrou sóbria (se comparada com a Dior, que transformou sua passarela em um jardim), mas há que se admitir que a grife deu um passo à frente no quesito cor. Lagerfeld deixou de lado ícones da marca como pretinho básico que eternizou Coco, abdicou dos longos vestidos de festa e trouxe o preto em versão leve, na gaze de chiffon que cobria vestidos com muitos bordados e brocados. Aplicados com pedrarias e paetês davam a sensação de uma moda cintilante e mágica. O longo e o black saem de cena por ora, mas o xadrez e tweed jamais. Para completar, botas bordadas e "combinando" com o look, na altura da canela.

Se a Chanel reduziu o preto ao mínimo, a Dior fez as cores explodirem no jardim em que se transformaram os fundos do Museu Rodin. Em uma festa das flores, a mulher Dior surgiu em versões cravo, amor-perfeito, gérbera, papoulas, tulipas... Foi o casamento perfeito da sofisticação do corte com a tecnologia da estamparia digital. Mulheres-flores fizeram as fashionistas sonharem com um jardim fashion de inverno colorido. Na cabeça, celofane "embrulhava" as tops-arranjos.

Ainda que não tenha apostado no show de cores, Giorgio Armani, com a Armani Privé, propôs um inverno claro e leve. Valorizando a alfaiataria das "roupas de trabalho", trouxe uma palheta em tons de bege, âmbar, tabaco, pérola e cobre em casacos, saias, camisas, terninhos, tailleurs. Para a noite, o nude e o cobre seguem forte em longos de seda drapeados, acinturados e, claro, leves.

Givenchy, membro oficial da Câmara Sindical de Alta-Costura, deixou a passarela e mostrou sua nova coleção em desfile privé em um salão da praça Vendôme. Mais uma vez, tons claros assinalaram um inverno luminoso. Pelo menos, na moda. Riccardo Tisci, estilista da grife, deixou de lado sua "cor fixa", o preto, e optou por branco, dourado, nude e renda.

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Jean Paul Gaultier não abriu mão do preto e do dark. E muito menos de seu talento de "despir" a mulher para vesti-la melhor. Foi assim que o estilista comentou a ideia de convidar Dita von Teese para se apresentar no desfile. Ex-mulher de Marilyn Manson, a bailarina despiu-se na passarela e revelou um espartilho cor-da-pele com detalhes em preto. Uma verdadeira homenagem à tradição de Gaultier: trazer para a superfície de um look a lingerie que muitas vezes passava despercebida. / COM NYT E AGÊNCIAS

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