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"O Invasor" chega às locadoras

Filme de Beto Brant, que revelou o talento do titã Paulo Miklos como ator, é lançado agora em vídeo e DVD. Disco digital traz também making of da produção

Por Agencia Estado
Atualização:

Na recente série de debates para discutir a estética e a cosmética da fome - uma realização da Associação Paulista dos Críticos de Artes, a APCA, com patrocínio do Espaço Unibanco de Cinema e do Canal Brasil - ,um dos filmes mais citados foi O Invasor, de Beto Brant. No momento em que o foco está na representação que o cinema brasileiro faz dos espaços da favela e do sertão, um filme como esse não pode nem deve ser esquecido. Você não precisa amar O Invasor de paixão para admitir que Beto, ao seguir a vertente de Murilo Salles em Assim Nascem os Anjos, realiza um movimento importante, que é estabelecer a ligação entre a periferia e o centro do poder. Isso vem representado, metaforicamente, na história do assassino profissional contratado por uma dupla para matar o sócio deles numa empresa construtora. O cara executa a função, mas logo em seguida instala-se na firma, levando pânico principalmente ao mais fraco, emocionalmente, dos homens que o contrataram. Para complicar, o invasor inicia uma relação de sexo com a filha da vítima, que só vai consolidando seu poder de desestabilização de uma certa ordem estabelecida. Tudo isso é muito interessante, até porque Beto e seu roteirista, Marçal Aquino, trabalham a questão do invasor em mão dupla. O personagem interpretado pelo titã Paulo Miklos invade o cenário dos poderosos, mas numa cena ele realiza o percurso inverso e é a garota rica que invade a periferia, conhecendo um lado da vida na cidade grande que lhe era estranho. Nada disso é irrelevante, mas o que pode provocar a antipatia em relação a O Invasor é justamente a cena de maior empatia com o público - aquela em que Miklos, diante do espelho, dirige-se à platéia de forma depreciativa e aponta com o dedo, como se tivesse uma arma fictícia prestes a disparar. Vale para qualquer peça em cartaz. O público de classe média ressente-se do fato de ver, nas telenovelas, um certo padrão de comportamento dos astros e estrelas globais. Seja pelo padrão Globo de qualidade ou pela (auto)censura, palavrões são vetados nas novelas, ouve-se no máximo um m.. ou uma b... Nas peças que os globais interpretam, a primeira coisa que eles fazem é soltar o palavrão, muitas vezes até mesmo de maneira gratuita. Sabem o que fazem. A platéia saturada de naturalismo adora ver seus ícones dizerem palavras de baixo-calão. A reação do público dos shoppings à cena de Miklos diante do espelho vai por aí, ainda mais que o cara é um titã, pôxa. Mas ela possui um outro significado. Ao fingir que dispara contra a gente, o invasor está nos colocando a todos no mesmo saco. Alienados ou conscientes, não importa. Somos todos esse Brasil que o diretor quer denunciar, afundado em corrupção e violência. A crítica é contundente e procedente, também, mas o que faz o diretor generalizar e apontar o dedo acusador, colocando-se numa discutível posição de superioridade moral? Enfim, é uma questão para ser discutida. mas, independentemente das restrições morais que se possam fazer a O Invasor, o filme possui inegável empatia com o público ao tratar de temas polêmicos da atualidade brasileira. E, o mais importante, confirma que Beto sabe filmar como poucos diretores de sua geração. Que ele é bom já era fato conhecido desde Os Matadores. E, mesmo que seu filme anterior, Ação entre Amigos, também não fosse completamente satisfatório, tinha o mérito de subverter a visão apaziguadora da guerrilha que Bruno Barreto propôs em O Que É Isso, Companheiro? Beto filmou O Invasor em Super 16 e depois fez o transfer, que é como se chama hoje a antiga kinescopagem. Isso deu a seu filme uma textura especial que valoriza O Invasor. O lançamento é simultâneo em DVD e vídeo. E o disco digital é enriquecido por extras que incluem o making of da produção. O Invasor. Brasil, 2001. Direção de Beto Brant. Lançamento da Europa. Vídeo e DVD (R$ 44,90).

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