O humor da era do rádio sai em livro

O jornalista Paulo Perdigão coletou todos os registros de um impagável programa de humor dos anos 40 e lançou No Ar: PRK-30!, livro que lembra uma face da era do rádio no Brasil

PUBLICIDADE

Por Agencia Estado
Atualização:

Em 1947, três antes da televisão chegar ao Brasil, um programa de rádio conseguia o feito de prender mais da metade da população do Rio de Janeiro em casa - pelas ondas da Rádio Nacional, entrava no ar, exatamente às 20h30, a PRK-30, "estação clandestina" que, durante meia hora, apresentava quadros de humor que dominariam as conversas do dia seguinte. Fez tanto sucesso que permaneceu 20 anos no ar (de 1944 a 1964), por mais de 800 representações em diversas emissoras do País. Época que inspirou a pesquisa de Paulo Perdigão, autor de No Ar: PRK-30! (202 páginas, R$ 49), valioso livro que a editora Casa da Palavra lança nesta semana e que detalha o trabalho pioneiro de dois humoristas: Lauro Borges (1901-1967) e Castro Barbosa (1909-1975). Eram deles as vozes características dos locutores Otelo Trigueiro e Megatério Nababo d´Alicerce, da fadista Joaquina Dobradiça da Porta Baixa, do professor de ginástica Reinaldo Muniz Magalhães, personagens de um tipo especial de humor, mais inocente e desprovido de qualquer cinismo ou sarcasmo. "Era modernista e surreal, mas sem o engajamento político e satírico de outros marcos da comicidade nacional", observa Perdigão, lembrando ainda o mais desvairado nonsense, a começar pelo total desrespeito às normas lingüísticas. Ciente que a simples reprodução no papel não seria suficiente para se entender a empatia popular despertada pelo humor do programa, Perdigão formou um pacote: o livro vem acompanhado de dois CDs com gravações originais de diversos quadros da PRK-30. E ainda, no final do volume, há a reprodução de scripts originais. Mesmo sem a pretensão de espelhar criticamente a realidade, a PRK-30 utilizava a demagogia eleitoreira, a falta d´água e a carestia como fonte de inspiração. E aí reside um dos segredos de seu sucesso, segundo Paulo Perdigão: "Rudes ou iletrados, velhacos ou atoleimados, jamais seus personagens deixaram de ser criaturas adoráveis, porque nelas não existe o Mal."

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.