
26 de março de 2011 | 00h00
Temos elementos inéditos para acrescentar à música rap, coisas que vão torná-la algo característico do Brasil, assim como houve com o tamborzão carioca, filho do Miami bass, e o tecno brega, eletro melody que alguns veem como uma ramificação do eletro pop europeu. Obviamente isso não significa que iremos nos desconectar do mundo, mas dentro de algum tempo iremos nos tornar outro elemento diferenciado nisso tudo, que nem sei se irá se chamar rap.
O Criolo Doido, em especial, é um ótimo expoente desta liberdade, quando você ouve Grajauex, Não Existe Amor em SP ou Subirudoistiozin, encontra três artistas diferentes com um único ponto comum, a necessidade de expor seu sentimento de forma visceral, e, voltando à base da coisa, é para isso que a música serve. Vejo nele um intérprete grandioso que quebra as barreiras do próprio rap, o que é fundamental para um artista de seu potencial mostrar todas as suas qualidades, e me refiro a um intérprete com talento proporcional aos grandes monstros que temos aqui, como um Ney Matogrosso, por exemplo. Com um adicional: o Criolo compõe. E rápido.
Hoje podemos buscar e encontrar material bom dentro do gênero rap em diversos cantos do País e cada um com seus diferenciais. Não dependemos mais somente de reproduções do que é feito fora, ou em são Paulo. É um caminho involuntário e sem volta que ninguém tem o poder de embarreirar porque é o fluxo natural das coisas para que elas permaneçam vivas, é como a maturidade chegando. Aliás, sempre ouvíamos há 15 anos que o rap ainda era uma criança. Creio que hoje passamos desta fase e esta criança não conseguiu evitar seu crescimento. Ela se emancipou, evoluiu, errou, acertou, mas, acima de tudo, aprendeu. Desceu o morro para mostrar sua importância, ganhar dinheiro, para dar continuidade à sua luta e para vencer na vida. Afinal de contas, chegou a hora dessa gente bronzeada mostrar seu valor.
EMICIDA É COMPOSITOR E CANTOR DE HIP HOP
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