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O Grupo Corpo vem aí, em teoria e prática

A companhia mineira de balé está nas páginas de um livro que investiga o caráter nacional das suas coreografias. E em SP, apresenta Bach e O Corpo

Por Agencia Estado
Atualização:

Na contramão da tendência que assaltou a dança contemporânea de inspirar-se no teatro, artes plásticas, literatura, antropologia e sociologia para criar novas linguagens coreográficas, é o Grupo Corpo que se vê interpretado por outras disciplinas no livro Oito ou Nove Ensaios sobre o Grupo Corpo (Cosac & Naify, 208 págs.) previsto para chegar às livrarias no dia 18. Organizado e apresentado pela ex-bailarina da companhia mineira, Inês Bogéa, o volume reúne textos de Luis Fernando Veríssimo (escritor) , Marco Giannotti (artista plástico), Maria Rita Kehl (psicanalista), Renato Janine Ribeiro (filósofo), Eliane Robert Moraes (crítica literária), Humberto Werneck (jornalista), Arthur Nestrovski (professor de literatura) e Zuenir Ventura (colunista). A proposta é tentar responder como a identidade brasileira se desenha no tecido dos 30 espetáculos apresentados pelo grupo desde a sua fundação em 1975 com a montagem de Maria Maria. De unhas roídas - O livro aparece no momento em que a Petrobrás acaba de aprovar verba de R$ 3 milhões por ano destinada à companhia e quando São Paulo recebe os espetáculos Bach e O Corpo para curta temporada no Teatro Alfa entre os dias 16 e 20. O salto inicial do Corpo ocorreu no início da década de 70 pelo esforço conjunto dos irmãos Pederneiras, em Belo Horizonte. Um deles, Rodrigo, ex-bailarino, é o cérebro do grupo, responsável pela criação das coreografias. Aclamado como um dos maiores profissionais de sua área no mundo, continua a roer as unhas antes de toda estréia. Aos 46 anos, 1,60, calvo, casado com a bailarina Cristina Castilho, e pai do também bailarino Gabriel, exige disciplina espartana dos profissionais que comanda. Estes somam 20 e acorrem de todo o País para Belo Horizonte sempre que há testes de seleção no palco dos Pederneiras. O caminho para se chegar a um estilo de dança brasileira foi longo e marcado pela inovação. Rodrigo explica que as primeiras coreografias estavam mais presas a narrativas e roteiros. Com o tempo, o grupo mergulhou no movimento e na música. "A partir da década de 90, penetramos em algo mais próximo do que podemos chamar de dança brasileira, movimentos nossos, criando assim uma identidade", diz o coreógrafo. A vez de Tom Zé - Ele salienta a importância dos compositores com os quais vem trabalhando nos últimos anos para reforçar a aquisição de uma identidade brasileira nos balés do grupo, como José Miguel Wisnik, Arnaldo Antunes, João Bosco e Tom Zé. Este último será o responsável pela música da próxima coreografia. O fato de ter atingido a excelência nos palcos e definido um estilo coreográfico não esfria a criatividade e o caráter experimentalista do Corpo. "Seria mesmo mais fácil aproveitar coisas já feitas e inovar pouco. Mas mantemos sempre como principal objetivo buscar o novo". Outro compromisso da companhia é manter-se fiel à dança e à música como matrizes para a criação dos balés. Rodrigo diz respeitar a incorporação das linguagens e disciplinas nas coreografias de vários grupos contemporâneos, mas descarta a mistura em seu caso: "A dança por si só pode levar a coisas mais emocionantes e maiores". No texto de abertura do livro que a Cosac & Naify está lançando, Luis Fernando Veríssimo afirma sentir-se patriota toda vez que assiste a um espetáculo do Corpo: "Um sentimento que começa na garganta, desce para a barriga e fica ali, irradiando calor cívico até o fim do balé". Rodrigo Pederneiras acredita que esse sentimento é o principal responsável pelo despojamento e riqueza buscados a cada nova coreografia apresentada pelos 20 bailarinos da companhia e responsáveis por colocar o Corpo entre os melhores grupos de balé do mundo.

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