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O Galpão, da direção coletiva às parcerias importantes

Por Agencia Estado
Atualização:

O Grupo Galpão foi criado em 1982 por cinco atores mineiros que haviam participado de uma oficina com dois professores alemães, George Frocher e Kurt Bildstein, no Festival de Inverno de Diamantina. Esse trabalho resultou na montagem do espetáculo A Alma Boa de Setsuan, da obra de Bertolt Brecht, e acendeu o desejo de prosseguir as pesquisas ali iniciadas. Formado, o grupo partiu-se imediatamente para uma primeira montagem, ...E a Noiva Não Quer Casar (1982), espetáculo de rua com direção coletiva. O contato com o espectador das praças públicas entusiasma o grupo e lhes injeta o ânimo de, qualquer que fosse a sua sorte, nunca abandonar as ruas e sua gente de olhar espontâneo e generoso. O passo seguinte os levou, no entanto, a uma experiência no palco: o espetáculo infantil De Olhos Fechados (1983), baseado no texto de João Vianney, que recebeu os mais importantes prêmios do teatro infantil naquele ano. A volta às ruas se dá com Ó Procê Vê na Ponta do Pé (1984), criação coletiva do grupo que busca o aprofundamento das técnicas circenses e da linguagem clownesca para atingir a magia e o lirismo. Uma nova passagem pelo palco acontece com a adaptação do clássico de Goldoni, Arlequim Servidor de Tantos Amores (1985). A proximidade das técnicas da "commedia dell?arte" e o uso da máscara encaminharam o trabalho que viria a seguir, A Comédia da Esposa Muda (1986), que seria apresentado mais de 300 vezes em sete anos de carreira. Foi Por Amor, montado para a rua em 1987, parodiava o álibi apresentado por réus de freqüentes crimes passionais que, à época, alimentavam as páginas policiais e a crônica social de Belo Horizonte, afinando, desse modo, a sintonia do grupo com a realidade à sua volta. Em 1988, Corra Enquanto é Tempo leva para as ruas, em tom de debochada comédia musical, uma crítica corrosiva à ocupação das mídias pelos pregadores evangélicos e seus seguidores. O espetáculo marca o encontro do grupo com o encenador Eid Ribeiro. No ano seguinte, voltando de uma excursão à Europa, o grupo adquire o Galpão onde tem até hoje a sua sede: um local para ensaios, administração, depósito de cenários e figurinos e espaço de convivência. Romeu e Julieta assinala o encontro do Galpão com o encenador Gabriel Villela, que assina a direção e a concepção geral do espetáculo. Sua estréia em 1992, numa tarde de intensa chuva na cidade histórica de Ouro Preto, marcaria o início de uma trajetória que já inclui mais de 200 apresentações em teatros e praças públicas de Minas Gerais, do Brasil e de 8 países: Inglaterra, Holanda, Espanha, Alemanha, Estados Unidos, Uruguai, Colômbia e Venezuela. Aqui, Shakespeare encontra Guimarães Rosa e a sonoridade da fala e do canto do povo mineiro, com resultado densamente poético e universal. A parceria com Gabriel Villela se desdobra em A Rua da Amargura (1994), uma leitura circense do nascimento e da paixão de Jesus Cristo. Baseado no original de Eduardo Garrido, O Mártir do Calvário, escrito em 1902, o espetáculo combina uma inspirada interpretação do melodrama de circo com tradições da religiosidade popular brasileira. O efeito mágico se completa com o apuro do visual barroco explorado no cenário, nos figurinos e no desenho da luz. Com Um Molière Imaginário (1997) o Galpão procura desvendar suas raízes, homenageando o maior comediógrafo da literatura universal, de origem igualmente popular e mambembe. Centrando o foco nas peripécias de O Doente Imaginário, de Molière, o espetáculo, montado para a rua, exercita o prazer da comédia e traz à cena a figura de seu autor para ser novamente reverenciado, com direito a interferências na ação da peça e a uma apoteótica vitória sobre a morte. Em 1998, na comemoração de seus 15 anos de existência, o grupo amplia seu espaço físico para diversificar suas atividades. Aluga o prédio de um velho cinema desativado, na mesma rua onde se localiza a sua sede, para instalar ali o Galpão Cine Horto, um centro de criação e de intercâmbio cultural. Partido (1999), uma adaptação da novela O Visconde Partido ao Meio, escrita por Ítalo Calvino em 1951, tem direção de Cacá Carvalho e reafirma a vocação do grupo em busca do desafio e da renovação. A adaptação de Calvino reforça essa intenção, no momento em que marca a primeira montagem de um texto literário, um fato inédito na carreira da trupe em 17 anos. A partir da fábula de Calvino, em que o Visconde Medardo de Terralba volta da guerra partido ao meio, Partido reflete sobre a cisão interior de todo ser humano. A princípio, apenas a metade má do Visconde volta da guerra. Tal cisão está na base da criação dos figurinos, de Márcio Medina, também autor do cenário. Desde 1982, já foram realizadas pelo grupo cerca de 1600 apresentações para um público estimado em 680 mil pessoas em mais de 300 cidades de 16 países.

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