
11 de setembro de 2011 | 00h00
No século 21, a música se movimenta por canções - e por motivos puramente técnicos, mais uma vez. Quando o formato digital se impôs, a velocidade de transmissão de dados online não estava tão avançada quanto hoje em dia. Por isso era mais fácil baixar apenas uma música do que um disco inteiro. Isso criou um problema para a antiga indústria do disco, que se bastava de um punhado de músicas boas para garantir a venda de um disco que tinha umas tantas outras faixas sem tanta importância. Investiam na canção para vender um pacote de músicas que não eram, no todo, boas o suficiente para serem compradas isoladamente. E assim, com a internet, os ouvintes c0meçarama a, primeiro, baixar apenas as músicas que queriam para, depois, comprar faixas avulsas digitalmente, destruindo o formato álbum, criado entre os anos 50 e 60.
(Interessante notar que o formato canção também surgiu de uma limitação técnica: quando a iniciante indústria fonográfica percebeu que a música erudita não seria mais popular, optou por formatar a canção popular - que crescia sem dimensão de duração - e, para isso, a compactou no máximo de tempo que os vinis da época permitiam - três ou quatro minutos.)
Isso não quer dizer que nunca mais iremos ouvir um conjunto de canções com uma mesma temática numa ordem preestabelecida. O melhor exemplo recente é o novo disco do grupo nova-iorquino Rapture, In the Grace of Your Love. Mesmo que suas músicas possam ser ouvidas em separado ou de forma aleatória, há uma coesão que ainda mantém o sentido de ouvir tudo na ordem proposta pelos autores. O crescendo autoral que começa em Sail Away e termina com It Takes Time to Be a Man me faz pensar que o formato álbum deixou de ter uma abordagem comercial para ser puramente estético - como a sinfonia, a ópera ou o concerto.
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