15 de agosto de 2010 | 00h00
Os anos 1950, ao mesmo tempo que prenunciavam as transformações dos 60, expunham uma crise da produção e da exibição. Hollywood sofria a concorrência direta da televisão, que lhe roubava público. Hitchcock, que flertava com a TV, sem deixar de ser um mago do cinema, recorreu à tecnologia para fazer o seu Psicose. Wyler, com sua fama de perfeccionista, virou a aposta da indústria para devolver o público aos cinemas.
A Metro já fizera uma versão silenciosa do romance de Lewis Wallace. Por volta de 1960, o estúdio convencera-se de que só um épico, maior que a vida, poderia tirar o público de casa, da frente da TV. A arma do cinemão seria justamente oferecer o que a telinha não podia dar.
Wyler era um mestre intimista. Quem melhor do que ele poderia captar as nuances do livro sobre o príncipe Judá Ben-Hur, transformado em escravo pelos romanos e que renasce do ódio no amor de Cristo?
Para baratear custos, Ben-Hur foi feito na Itália. Wyler estava tão imerso no drama intimista - a relação de ódio entre Ben-Hur e seu antigo amigo, Messala - que a cena mais espetacular do filme, a corrida de bigas, foi feita por uma equipe à parte.
Dois conceituados diretores de segunda unidade - Andrew Marton e Yakima Canut - foram colocados sob a supervisão de um cineasta italiano, Mario Soldati. A cena de 11 minutos foi feita pelo trio e integrada à montagem final.
Wyler, como sempre, ocupou-se dos atores. Atraído por roteiros sólidos e conflitos psicológicos bem estruturados, ele se concentrou nas interpretações, trabalhando com a profundidade de campo, ou campo total, que era a característica mais marcante de seu estilo.
O interessante é que o "clássico" William Wyler se considerava um estilista sem estilo. Cristo, como personagem, quase não aparece, mas a força magnética do seu olhar permanece com o protagonista (e o espectador).
Era de ouro. Ben-Hur atingiu plenamente seu objetivo. Arrebentou nas bilheterias, encheu as salas de espectadores e iniciou uma era de ouro das superproduções, que prosseguiu com os épicos rodados na Espanha pelo produtor Samuel Bronston (O Rei dos Reis, El Cid, 55 Dias de Pequim, A Queda do Império Romano, etc.).
Mais importante - a Academia de Hollywood deu seu aval a Wyler e o filme estabeleceu um recorde (11 Oscars, incluindo melhor filme, diretor e ator, Charlton Heston) que só foi igualado nos anos 1990 por outro megassucesso da indústria - Titanic, de James Cameron.
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