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Retratos e relatos do cotidiano

O enigma das impressoras

Uóóóó-pãããã-vlup-vlup-vlup-pãããã-vlup-vlup. E vem a certeza de que nada correrá bem

Por Ruth Manus
Atualização:

Todos os equipamentos eletrônicos produzidos ao redor do mundo têm uma mesma finalidade: funcionar. Entretanto, como toda regra comporta uma exceção, existe um tipo de aparelho eletrônico que foi criado, na contramão dos demais, exatamente para não funcionar nunca. Trata-se das impressoras, que assombram nossos dias em casa ou no escritório. Não sei bem se essa decisão de não funcionamento foi tomada por algum organismo internacional, se foi fruto de uma assembleia da ONU, de reunião de sindicato patronal ou sindicato de trabalhadores. Não sei. Há também a hipótese de as próprias impressoras terem criado um movimento de desobediência civil, absolutamente eficaz, que vem se consolidando nas últimas décadas. Seja como for, as impressoras trabalham de uma forma extremamente traiçoeira. Tudo começa quando uma pessoa clica no botão “imprimir” no computador. Abre-se, então, uma janela na qual você deve confirmar as especificidades da impressão. Tudo parece ir bem, até que se lê o nome da impressora. Canon PIXMA, HP Deskjet 2136, Konica Minolta, Epson L220. Você não sabe como todas aquelas referências foram parar no seu computador, uma vez que só costuma usar uma ou duas impressoras, cujos nomes você nem faz ideia. Então, inicia-se o processo de procurar o nome do aparelho. Tudo o que você encontra são aqueles botões que piscam. Até que num cantinho você encontra a marca e torce para acertar o modelo. Tudo bem, a primeira fase foi superada. Você seleciona a impressora e dá o comando. Eis que a impressora começa a fazer barulhos suspeitos. Uóóóó-pãããã-vlup-vlup-vlup-pãããã-vlup-vlup. Nesse momento já somos invadidos pela certeza de que nada correrá bem. Na sequência, instala-se um incômodo silêncio. Parece que nada mais vai acontecer. Até que a impressora puxa uma folha de papel. Começa o consolador ruído xék-xék-xék, avisando que a impressora está, para sua surpresa, imprimindo algo no seu papel. Mas quando você estica o pescoço para ver, há um problema. Não se sabe bem qual. Talvez esteja saindo tudo com uma tinta cor de tijolo. Talvez esteja saindo tudo em letras imensas que mal cabem na página. Talvez esteja tudo muito pequeninho, no canto da página. Em 76% dos casos o problema já começa na primeira folha. Nos outros 24% dos casos, em que a impressão começou bem, as interferências surgem entre a segunda e a quarta folha do documento. Um caso frequente é a falta de papel. Você não viu que só havia três folhas e, de repente, a máquina, ficou furiosa. O vlup-vlup-vlup de puxar as folhas é intercalado por um estridente iéééé, como o grito de um recém-nascido que não encontra o seio materno. Você se apressa, com o coração na boca, para achar outras folhas e, ao encontrá-las e colocá-las no compartimento, nada acontece.Pausa dramática. Você aperta o botão que estava piscando. Nada. Aperta outro. Nada. Resolve cancelar a impressão para recomeçar do zero. Não sabe como fazer isso. Conclui que é melhor desistir de tudo. Há outros dias em que você pede a simples impressão de uma página e a máquina, num ataque de fúria, começa a cuspir dezenas de folhas de papel em branco, sem mais nem menos, como se estivesse distribuindo panfletos de restaurante por quilo no centro da cidade, até que você crie coragem de apertar o botão de desligar com força e raiva para conter aquele ato de insubordinação. Além disso, há a impressão em códigos que parecem egípcios. Há as folhas que ‘engastanham’ em alguma peça e vão amassando e engasgando a impressora. Mas, sejamos justos, uma vez ou outra dá tudo certo. E, nesse caso, para não perder o hábito, depois da impressão impecável do documento, uma última folha voluntariosa se apresenta e sai da impressora com uma única frase, que você nunca viu na vida, impressa na pontinha.

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