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O efeito ilusionismo em um filme de assalto

As apostas e os truques de François Leterrier para sair do lugar comum

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Por Redação
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Louis Leterrier - Louis quem? Não é um diretor cujo nome o cinéfilo tenha na ponta da língua, mas, na sua modéstia - leia a avaliação do ator Jesse Eisenberg na página ao lado -, Leterrier tem conseguido algumas façanhas. Provou que Jet Li, além de bom de ação, é bom de atuação em Cão de Briga e o seu Incrível Hulk é quase unanimemente considerado superior ao monstrengo esverdeado de Ang Lee. Leterrier assina agora Truque de Mestre. No original, o filme tem um título completamente distinto - Now You See Me, Agora Você Me Vê. O título original entrega o gênero, o filme de assalto. Em inglês, há uma sutileza. É, como diz o próprio Leterrier, um filme sobre o olhar.Pode parecer esdrúxulo, porque os críticos não se cansam de dizer que Hollywood faz filmes de ação para os olhos, mas não para o olhar. Ocorre que Leterrier é francês - e a entrevista transcorre num clima descontraído porque é feita na língua de... Jacques Rivette (para pegar carona num grande cineasta que está sendo tema de retrospectiva na cidade)-, e mais que isso, é filho de François Leterrier, ator de um clássico de Robert Bressoon, Um Condenado à Morte Escapou, de 1959. Bresson adorava os atores opacos, que ele fazia falar num tom monocórdico. Não foram muitos os que fizeram carreira, depois dele - Anne Wiazemsky, de A Grande Testemunha; Dominique Sanda, de Uma Mulher Doce. O caso de François Leterrier é muito particular.Licenciado em filosofia, tinha 30 anos ao trabalhar com Bresson. Virou diretor e fez alguns filmes interessantes, inclusive uma boa adaptação de um autor difícil como Jean Giono (Un Roi sans Divertissement) e um produtivo diálogo com os quadrinhos de Gérard Lauzier em Je Vais Claquer. O restante agrada menos à crítica, e François Leterrier fez até Adeus, Emmanuelle, com Sylvia Kristel e trilha de Serge Gainsbourg, em 1977. Seguiu filmando até meados dos anos 1990. O filho nasceu em 1970 - tem 43 anos - e admite que a profissão do pai foi decisiva para que ele também se tornasse cineasta.A experiência do pai num grande filme de arte como o de Bresson era tema recorrente em casa, mas Louis foi ser assistente de Luc Besson em Joana d'Arc. Seus primeiros filmes como diretor foram produzidos por Luc - Cão de Briga e Carga Explosiva 2, com Jason Statham. É direto - "Nem todo mundo tem temperamento para ser Bresson, mas isso não significa que não aprecie o cinema dele, que é tão diferente do meu." Como diretor de ação, confessa que não se interessa só por pancadaria e movimento. "Gosto de dar consistência aos personagens, e isso se faz por meio do roteiro e da interpretação. Adoro atores, eu mesmo fiz alguns filmes como ator."O que havia de interessante na proposta de Truque de Mestre era o fato de a magia invadir o filme de assalto. "Era como se (Georges) Méliès fosse o verdadeiro ladrão do banco." Só que, ao mesmo tempo que propõe o tema da magia, Louis Leterrier o desmistifica. "Temos o personagem de Morgan (Freeman) que desconstrói a mágica do grupo de ladrões, os Quatro Cavaleiros." Leterrier conta que o roteiro passou por alguns ajustes. "Queria mais conflitos entre os personagens e, de certa forma, menos reviravoltas. As que ficaram são frenéticas, mas ainda havia mais."A ideia de desmistificar os números de mágica implica num convite para que o público veja o filme com outros olhos. "Daí o título, Agora Você Me Vê." Louis Leterrier sabe que não está reinventando o filme de assalto, mas lhe agrada colocar uma pedra no sapato do espectador. Tentou fazer isso no primeiro Fúria de Titãs, com Sam Worthington, e o filme tem cenas das quais se orgulha, mas ele reconhece que a transformação em 3-D não ajudou. Só produziu o 2, com Henry Cavill. Haverá o 3? "Pelos demais produtores, sim, mas tenho outras prioridades." / Luiz Carlos Merten

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