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O diretor que elevou ibope da Record

'Na Globo, seria impossível gravar em favela', diz Alexandre Avancini, que derrubou todas as previsões ao dirigir Vidas Opostas

Por Leila Reis e leilareis@terra.com.br
Atualização:

Quando saiu da Globo para dirigir o núcleo artístico da Record, Alexandre Avancini levou quase cem pessoas. Esse movimento fez com que as emissoras mudassem sua relação com atores e técnicos. A Globo está contratando profissionais mesmo sem trabalho definido para eles. ''''Demos uma bela aquecida no mercado'''', diz o diretor de 42 anos, que se prepara para emendar sua terceira novela, Caminho do Coração. Nesta entrevista, ele diz que fazer a novela Vidas Opostas, em reta final, mudou a sua vida e a dos atores. ''''É muita ousadia gravar dentro de uma favela.'''' Você nem acabou de dirigir a segunda novela e já está trabalhando em outra. Isso é prestígio ou abuso? É prestígio, sem dúvida. Quando acabei de fazer Prova de Amor, me interessei por Vidas Opostas porque era uma proposta ousada: uma favelada como protagonista e uma produção complicada, porque a principal locação é dentro de uma favela, a Tavares Bastos. Como foi a escolha da favela? Fomos a várias, queríamos uma em que não tivesse tráfico. Escolhemos a Tavares Bastos porque tem um quartel bem no meio. Todo mundo dizia que não ia dar certo, que pobre não gosta de ver pobreza na TV, mas mostramos que o público mudou. Que o pobre gosta de ser ver na tela de uma maneira mais digna e realista. Prova disso é que várias vezes, durante vários minutos, ficamos em primeiro lugar no Ibope. A Record está provando que as coisas não são imutáveis, que com uma dramaturgia de qualidade é possível conquistar audiência. A Record é acusada de copiar a Globo. Qual foi a encomenda que lhe fizeram quando você foi contratado? Ela não copia a Globo, nós corremos atrás de um padrão de qualidade internacional, que também é o da Globo. Cenário, luz e tecnologia de ponta só a Globo tinha, mas hoje a Record também consegue. As novelas são muito parecidas com as feitas na Globo... O que foi para a tela da Record em Prova de Amor foi meu estilo e não o da Globo. Quando cheguei aqui, havia feito cinco trabalhos com o Manoel Carlos na Globo, era natural parecesse com as da Globo. Não houve encomenda nenhuma, a Record me deu carta branca. Contratei quase cem profissionais, todos da Globo, afinal, trabalhei 22 anos lá. Está fácil tirar gente da Globo? Quando comecei na Record, havia mais gente solta no mercado, agora está mais difícil. A Globo está contratando os profissionais mesmo para não trabalharem. Demos uma bela aquecida no mercado, os atores estão felizes. Seu trabalho é mais notado na Record do que foi na Globo? Na Record assumi a função de diretor de núcleo, portanto, tenho mais controle sobre o processo de criação e isto me dá mais visibilidade. O que me incentivou a mudar de emissora foi a liberdade artística. Na Globo, seria impossível fazer novela na favela por falta de agilidade. Qual é a audiência que a Record pede? Sou muito realista, prometi 10 pontos de média para Prova de Amor e conseguimos 18, previ 12 para Vidas Opostas e marcamos 16. A que você atribuiu essa performance? Televisão é uma questão de hábito, insistência, marcar um horário. Quando se investe, o retorno vem. Quando entrei, a Record tinha dois estúdios, hoje tem nove e vai chegar a 17. A idéia é criar um parque para fazer TV e cinema. Qual é o legado que seu pai (o diretor Walter Avancini) deixou? A forma de pensar o veículo e a relação com a arte. Sou casado com atriz, Nanda Viegler, e tenho uma filha de 4 anos, que levo ao estúdio da mesma maneira que meu pai me levava. Aprendi com ele a trabalhar o ator de forma mais profunda para ter um personagem bem desenhado. Qual foi seu trabalho mais autoral? Na Globo, foi Uga Uga, o meu primeiro como diretor-geral, e Vidas Opostas, que me deu a chance de fazer uma novela realista e toda em locação externa. Houve uma vez que o comandante do quartel (que fica na favela) pediu para parar a gravação porque pensou que havia traficantes na nossa figuração, dado o realismo da cena. Esse trabalho mudou a vida de todo mundo, dos atores, a minha. Q

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