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O desafio de ser justo (compassivo?) com Jung

Crítica: Luiz Carlos Merten

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Por Redação
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David Cronenberg já era um autor importante, mas algo vem se passando desde que iniciou a parceria com Viggo Mortensen, dando papéis cada vez melhores ao ator - em Marcas da Violência, Os Senhores do Crime e Um Método Perigoso. O filme sobre os primórdios da psicanálise e o embate intelectual entre Freud e Jung começou a nascer como projeto do roteirista e dramaturgo Christopher Hampton para Julia Roberts.Ela seria Sabina, se a Fox não convencesse a atriz a desistir do papel, nos anos 1990. Contra o desejo dos executivos do estúdio, Julia liberou Hampton para escrever a peça que encantou Cronenberg e o levou a fazer o filme adaptado do livro de John Kerr - A Most Dangerous Method, The Story of Freud, Jung and Sabina Spielrein. Cronenberg tirou o superlativo (Most Dangerous), mas preferiu o título do livro ao da peça, The Talking Cure, mesmo que a cura pela fala - e as associações de palavras de Jung - estejam no centro da belo estreia de hoje.O filme trata do processo de aproximação e ruptura entre Freud e Jung. A relação do segundo com Sabina, a paciente de quem se tornou amante, foi fundamental no processo. Um Método Perigoso trata de ideias, de romance, de sexualidade. Hampton gosta de dizer que Jung se preocupava mais com a cura dos pacientes e que a Freud atraía o aspecto mais racionalista da discussão da mente. Hampton acrescenta que foi duro - para ambos, Cronenberg e ele - ser justos com Jung, porque o tempo todo se sentiam mais próximos de Freud, de sua aparente rigidez intelectual (e moral).Mas a alma do filme é Sabina. Seu reencontro com Jung, uma licença poética, é triste como a cena final entre Natalie Wood e Warren Beatty em Clamor do Sexo, de Elia Kazan. A psicanálise nasceu simultânea com A Interpretação dos Sonhos. Hampton diz que o filme é sobre a ciência dos sonhos. É complexo, apaixonante. E o trio de atores, Viggo, Michael Fassbender e Keira Knightley, impressionante.

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