O cordel anima discussão no Itaú Cultural

A poesia popular que chegou aqui no século 16 foi tema de Audálio Dantas, Jorge de Melo e Valdeck de Garanhuns

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Por Agencia Estado
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Apesar da chuva no fim de tarde, na quarta-feira, cerca de 200 pessoas foram ao Instituto Itaú Cultural, em São Paulo, às 19h30, participar do programa Jogo de Idéias que, desta vez, tinha como tema Cordel e Cordelistas. Para falar sobre o assunto, foram convidados o jornalista e pesquisador Audálio Dantas, o músico e folclorista Jorge Melo e o compositor, ator e poeta Valdeck de Garanhuns, que levou um boneco negro, seu amigo Benedito. A mediação foi feita pelo jornalista Claudiney Ferreira. Todos eles, exceto o mediador, são nordestinos, e não poderia ser diferente. O cordel, "primeira cultura a se manifestar com a cor brasileira", como disse Melo, se refere aos "folhetos impressos, compostos no Nordeste e presentemente divulgados e correntes em todo o Brasil", essa definição está presente no Dicionário do Folclore, de Câmara Cascudo. É uma expressão cultural popular que chegou aqui no século 16 por meio dos folhetos portugueses até que, no século 19, no Nordeste, foram impressos os primeiros cordéis brasileiros, fazendo com que a região se transformasse na reserva cultural dessa expressão. Essa contextualização foi feita por Audálio Dantas, que há tempos se debruça sobre o tema e que foi curador da exposição Cem Anos de Cordel, apresentada em 2001 no Sesc Pompéia. Os folhetos impressos eram expostos em cordões e, daí veio o nome cordel. De Portugal, os romances que falavam de princesas se transformaram, aqui, nos romances sobre a filha do fazendeiro. Ao mesmo tempo, as histórias foram ganhando rimas e, assim, as estrofes poderiam ser lidas ou cantadas - desse modo, Melo, com o violão, e Valdeck fizeram repentes a partir de palavras sugeridas pela platéia. Como disse Valdeck, ele aprendeu cordel escutando. Porque o que importa é aprender a pensar nas rimas. Mas não se deve deixar de lembrar, também, das ilustrações, as xilogravuras feitas em tacos de madeira de 10 cm x10 cm. Um xilógrafo ilustre da região e também cordelista, Marcelo Soares, estava na platéia e por vários momentos os convidados se referiam a ele. Marcelo seguiu o caminho de seu pai, José Soares, o poeta-repórter, que ficou conhecido pelo cordel sobre a morte de Getúlio Vargas, em 1954, com tiragem de 100 mil exemplares. Isso para dizer que nenhum assunto escapa para ser tema de um cordel. E assim foi o encontro. Em meio a repentes, leituras, informações e risadas.

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