O comer, rezar, amar com tempero do jeitinho brasileiro

PUBLICIDADE

Por Luiz Carlos Merten
Atualização:

Antes que Tropa de Elite 2, de José Padilha, desbancasse Dona Flor e Seus Dois Maridos, de Bruno Barreto, as comédias lideravam o ranking dos maiores sucessos de público do cinema brasileiro. Comédias urbanas, caipiras, eróticas, pornochanchadas. Onde Está a Felicidade? não se encaixa em nenhum desses rótulos. É uma comédia on the road, que se passa em boa parte na estrada. E no exterior - o caminho que leva milhões de peregrinos a Santiago de Compostella, na Espanha.OK, digamos que Onde Está a Felicidade? tem sugestões de sexo, alguma safadeza. Mas na entrevista acima, Bruna Lombardi, que além de atriz é roteirista, esclarece que tentou abordar a comédia pensando na elevação espiritual. O caminho não está ali por acaso. É para pavimentar a experiência transformadora vivida pelo casal de protagonistas. Bruna e Bruno Garcia é quem fazem os papeis.Os cínicos poderão dizer que ela, talvez, estivesse apenas pensando em faturar um pouco em cima dos ensinamentos do guru Paulo Coelho, que também fez o caminho. Ou então que, sendo mulher e bela - o tempo não a afetou em nada -, esteja querendo passar uma "mensagem" a mulheres entediadas na vida e no casamento. Mais do que Sex and the City, Onde Está a Felicidade? é o Comer, Rezar, Amar de Bruna - e de seu marido e realizador, Carlos Alberto Riccelli.O "comer" aparece de cara, e não no sentido metafórico. Bruna, ela se chama Teodora no filme, tem um programa de receitas na TV. O marido é comentarista esportivo. As coisas não andam bem em casa e ele se estimula dando uma espiada num site de relacionamentos. Ela o pega no pulo - ou melhor, na tela do computador. Sexo virtual é traição? "Meu amor, nem houve penetração!", grita Bruno Garcia.Não importa, a mulher resolve fazer o Caminho de Santiago. Juntos vão seu produtor e uma assistente. Eles fraudam o caminho, o que um verdadeiro peregrino não faria - é o jeitinho brasileiro? Num telefonema, pensando ver confirmado o adultério, Teodora resolve dar para o primeiro que cruzar seu caminho - o mensageiro de uma pousada.Bem acabado, com bela fotografia e um cuidado grande no que se refere à verossimilhança geográfica do caminho, Felicidade se beneficia de alguns (bons) momentos e participações, como a de Marcelo Airoldi, na pele do produtor. Na maior parte do tempo, beira a tolice, sem a densidade que O Signo da Cidade lograva alcançar. São esse verniz, e essa superficialidade, que o credenciam a almejar um grande público, por mais que Bruna diga privilegiar a qualidade sobre a quantidade.ONDE ESTÁ A FELICIDADE? Direção: Carlos Alberto Riccelli.Gênero: Comédia (Brasil/ 2011, 100 minutos). Censura: 12 anos.

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.