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"O Bruxo" mostra magia contra razão

Por Agencia Estado
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Ana é intelectual, professora universitária, autora de prestigiados livros de poesia. Bem informada, culta, inteligente, sem problemas financeiros, aos 50 anos pertence a uma parcela privilegiada da população brasileira. Mas nem por isso é feliz. Separada de Pedro, com quem foi casada por 25 anos, reatando um caso com o ex-amante Bruno, toureando relações difíceis com Leo e Paula, os filhos adultos e casados, Ana sente-se perdida. Em lugar de recorrer à psicanálise, essa mulher racional procura, paradoxalmente, um místico para descobrir o que o futuro lhe reserva. A partir do encontro com um vidente, a vida da escritora vira do avesso. A intensa Ana é protagonista do novo romance de Maria Adelaide Amaral, O Bruxo (Editora Globo, 261 págs., R$ 25). O público teatral conhece o talento e o humor ácido da autora de Bodas de Papel, Intensa Magia, De Braços Abertos. O que poucos sabem é que a dramaturga, que adaptou A Muralha e Os Maias para a tevê, é uma segura romancista. Depois de Luísa e Aos Meus Amigos, lançados nas décadas de 80 e 90, Maria Adelaide retornou ao gênero com O Bruxo. A escritora trata outra vez das relações entre homens e mulheres e suas conseqüências. A protagonista, ainda que não o saiba, deve acertar contas com o passado. Em mais de uma ocasião, durante o casamento, ela traiu o marido. O peso das traições acompanha-a após a separação. Ana terá de enfrentar esse problema. Ao mesmo tempo, descobre que tem uma doença séria e deverá ser submetida a uma cirurgia. >O Bruxo começa de forma hesitante. Os primeiros capítulos foram escritos de tal modo, que as informações sobre a personagem e seu círculo acumulam-se sem nitidez. O leitor encontra dificuldade para embarcar na narrativa. Mas o livro torna-se envolvente depois. Maria Adelaide não poupa ninguém. Embora sejam sensíveis e frágeis, as mulheres e homens de O Bruxo são impulsivos, egoístas, rancorosos, mesquinhos, agressivos. Em seu estilo sóbrio, cortante, a autora dá vida a seres humanos complexos, cheios de problemas. Ana, adúltera que lutou para manter seu casamento, mulher separada que batalha para reencontrar a felicidade, é um belo retrato de mulher, desses que se permanecem na lembrança do leitor. Os demais personagens de fôlego do livro ? Bruno, o bruxo, as amigas de Ana, sua família, o crítico literário Ivan ? são tão bem-desenhados quanto as pequenas figuras. A empregada Iraci ou a desagradável avó materna de Ana, que surgem em breves cenas, têm vida, pulsam. Resta saber se o bruxo que dá titulo ao livro é um mago ou um trapaceiro. Suas profecias sobre Ana vão se cumprir? Maria Adelaide não responde de modo claro a essa questão. Hábil bruxa literária, apenas semeia pistas na narrativa. O leitor é quem deve decidir.

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