PUBLICIDADE

O 'brechó' de R$ 1 milhão de Bethy

Em ação beneficente, viúva de Lagardère coloca à venda peças míticas de Chanel, Lauren, Ungaro, Louboutin e Blahnik

Por Roberta Pennafort/ RIO
Atualização:

Tem R$ 50 mil aí à mão? Com esse valor, é possível, com sorte, arrematar um anel em ouro branco com inacreditáveis 25 águas marinhas e 150 diamantes que adornou o dedo de uma das mulheres mais ricas do Brasil. Viúva do empresário francês Jean-Luc Lagardère, que foi dos homens mais poderosos da França, Bethy Lagardère está leiloando a partir de hoje mais de 600 itens de sua majestosa coleção de joias, louças, móveis, vestidos, bolsas e outros objetos pessoais e para casa. O anel é o item mais valioso desse conjunto, amealhado em quatro décadas de vivência europeia e viagens pelo mundo.Conhecida pela elegância nada óbvia - figurou na lista das mais chiques do mundo -, Bethy foi modelo de alta costura nos anos 70 e se casou com Lagardère em 1978. Dono de um império empresarial que incluía a editora das revistas Elle e Marie Claire, ele morreu em 2003 e lhe deixou uma fortuna de bilhões de euros.O leilão, que deve render mais de R$ 1 milhão, segundo a organizadora, Soraia Cals, não visa lucro próprio. Aos 64 anos, ela quer financiar a abertura da Maison Brasileira de Moda e Design BL, em Belo Horizonte, sua cidade natal, em parceria com a UFMG. Vai ficar no prédio da universidade na Praça da Liberdade. A iniciativa é de Bethy e foi incentivada pelo governo mineiro."Tenho muito carinho e apego pelas minhas coisas, lógico que dá pena leiloar. São objetos que atravessaram minha vida. Espero que eles encontrem alguém para admirá-los. Mas é um absurdo não existir um centro de memória sobre a moda brasileira, um arquivo sobre Dener, Clodovil... Eu precisava legar isso ao meu país", diz Bethy, com sotaque francês.Há vestidos exóticos que só uma mulher com muito senso de estilo, como ela, consegue usar. São 60 peças, de marcas como Chanel, Ungaro e Ralph Lauren, que estavam em seu apartamento, na praia de Ipanema. As joias enchem os olhos de qualquer um. Pelo lance mínimo de R$ 23 mil, está à venda um par de brincos Chanel em ouro branco com diamantes e incrustado com turmalinas. Por R$ 21,5 mil, um anel também em ouro branco com uma enorme esmeralda. O catálogo tem itens acessíveis, como uma caixa de mesa para cigarros em couro de crocodilo e prata, ao valor mínimo de R$ 150, e um par de copos para cachaça em vidro tcheco com monogramas, ornamentados com uma vista da cidade de Praga, a R$ 50.Saris indianos bordados com fios de ouro podem sair a R$ 500. As túnicas, marca registrada de Bethy, aparecem em diversas cores e tecidos. Os sapatos Jimmy Choo, Christian Louboutin e Manolo Blahnik têm público seleto: com 1,80 metro, ela calça 40/41. A maioria dos pares nunca pisou o chão.A exposição, num prédio comercial da Avenida Atlântica, em Copacabana, durou toda a semana e reuniu curiosos e potenciais compradores. Hoje, o foco do leilão será as roupas; amanhã, as joias; na quarta-feira, os objetos de design e decoração. Segundo Bethy, o que está sendo exibido corresponde a menos de um quarto de seus pertences. Radicada em Paris a partir de 1972, ela morou depois no Marrocos, até voltar para o Brasil, cinco anos atrás.Todos os itens à venda se encontram em perfeito estado, como se tivessem saído das lojas ontem. Amiga de estilistas como Yves Saint Laurent e Jean Paul Gaultier, Bethy teve algumas peças feitas especialmente para si. Ela conta que nunca foi compradora obsessiva. "Não tenho compulsão, não compro pelo prazer. Gosto do artista, gosto do que é excepcional, adquiro aquilo que comove. Colecionei a vida inteira, o que usei e o que nunca usei. O primeiro sapato Ungaro com o qual desfilei, em 1972, eu guardei."No Rio, os looks não costumam ser tão enfeitados quanto os usados na Europa. Mas não por insegurança. "É mais uma questão de estrutura. Aqui não dá pra você andar três quarteirões com um sapato Prada sem estragar todo o salto na calçada".

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.