"O Beijo da Mulher Aranha": contagem regressiva

Miguel Falabella e Cláudia Raia realizam projeto nascido há sete anos de montar no Brasil adaptação da obra do argentino Manuel Puig. Musical tem estréia marcada para o fim do mês, no Teatro Jardel Filho

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Por Agencia Estado
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Passando férias em Nova York, Miguel Falabella e Cláudia Raia encontraram-se, por acaso, na Broadway, quando assistiram ao espetáculo O Beijo da Mulher Aranha, baseado no romance do argentino Manuel Puig. Maravilhados com o musical, os dois almejaram fazer uma nova montagem no Brasil. Sete anos se passaram e agora, ao fim de uma maratona de ensaios, eles estão em contagem regressiva para concretizar esse sonho. Sob a direção cênica de Wolf Maya e com estréia marcada para o dia 26, no Teatro Jardel Filho, a superprodução da mexicana CIE orçada em US$ 1 milhão ainda terá no elenco Tuca Andrada e a participação especial de Vera do Canto e Mello, além de dez bailarinos e quatro atores/cantores selecionados entre mais de 400 candidatos. Passado numa prisão de algum país sul-americano O Beijo da Mulher Aranha conta a história de Valentim (Tuca Andrada), um revolucionário marxista acusado de terrorismo, e Molina (Falabella), um homossexual preso por corrupção de menores, ambos obrigados a conviver numa cela apertada. Para aliviar a dor da solidão, Molina refugia-se entre delírios e fantasias povoadas por Aurora (Cláudia Raia), sua estrela de cinema preferida. Apaixonado por todos os filmes dela, ele só não gosta que ela interprete a Mulher Aranha. Nesse romance inquietante, Molina terá de aprender a dignidade de sua condição humana, enquanto Valentim conhecerá, através do companheiro de cela, os princípios do prazer e do sonho. Ao contrário de Wolf Maya, Cláudia e Falabella, Puig não pôde conferir a versão de sua peça na Broadway, pois morreu dois anos antes, em 1990, no México. Escrita originalmente em espanhol, em 1976, e traduzido em 27 idiomas, a novela do argentino foi adaptada por ele mesmo para o teatro e encenada em diversos países. Antes de estrear no Rio de Janeiro, sob a direção de Ivan de Albuquerque e com os atores Rubens Corrêa (Molina) e José de Abreu (Valentim), no início da década de 80, O Beijo já havia estado em palcos espanhóis e italianos. Mas foi somente com o cineasta Hector Babenco que o escritor viu seu texto chegar às telas do cinema, em 1985, com Sônia Braga, Raul Julia e William Hurt - este premiado com um Oscar por sua interpretação de Molina. Instalados nas salas do Teatro Ópera, os atores cumprem quase que diariamente uma marotona de ensaios, das 14h às 22h, incluindo aulas de canto e dança. A direção-geral é de Billy Bond, também responsável pelas grandes montagens e shows que estrearam recentemente no País, entre eles Rent, Aí Vem o Dilúvio, Crazy Horse, além de apresentações de Alanis Morissete e concertos dos Três Tenores. Segundo ele, a produtora está oferecendo tecnologia importada e boa infra-estrutura aos atores. "Mas a mão-de-obra é brasileira", ressalva. "Somente nesse espetáculo estão envolvidos quase 100 profissionais." Experiente em musicais, Claudia Raia já perdeu a conta de quantas vezes subiu a palco para mostrar seus dons como bailarina e atriz. Mas surpreendeu-se com a infra-estrutura dos ensaios. "Nunca tive um espaço com a reprodução do cenário", comenta. "Estamos muito bem assessorados pelo compositor Sérgio Sá, que assina a direção musical, e pelo coreógrafo argentino Hugo Gomez", disse ela, em entrevista, enquanto brincava com o filho Enzo, que veio a São Paulo matar a saudade da mãe. Desde que assistiu ao espetáculo na Broadway, com Chita Rivera em seu papel, Claudia ficou apaixonada pelo musical e por seu personagem. Tanto que voltou mais três vezes e conferiu a montagem argentina outras duas. "Como o espetáculo vem de um romance, ele tem uma estrutura dramática pouco comum em musicais", analisa. "Esse é um universo muito latino, acho que os americanos não devem ter entendido metade", brinca Claudia, referindo-se à alma brasileira de Puig. Para a estréia de O Beijo da Mulher Aranha, o Teatro Jardel Filho está sendo todo reformado a fim de comportar uma tonelada em maquinaria, responsável pelas mudanças computadorizadas no cenário de Renato Scripillitti. Somente para reproduzir as 700 mudanças de luz previstas na iluminação original de Howel Binkley, agora assinada por Andrez Mattiauda, o teatro ganhará mais 300 spots. Já a trilha sonora, será gravada por 50 músicos da Orquestra Sinfônica de Campinas. Parceiro de Claudia e Falabella em outras empreitadas, Maya acredita que os atores brasileiros estão mais bem preparados para o teatro. "Talvez tenham perdido o preconceito de dançar e cantar", comenta. "Essa nova geração está mais estudiosa e apaixonada pela música", elogia. Feliz por reecontrar profissionais de que gosta muito, Maya conta que também está adorando trabalhar com Tuca Andrada. "São atores de talento e que estão se esforçando bastante", diz ele, que pretende montar em seguida o musical "Os Inconquistáveis", no Teatro Café Pequeno, no Rio. Além da boa performance dos atores brasileiros, Bond nota a receptividade do público para esse gênero de espetáculo. Tanto que já adquiriu os direitos para outras montagens de grande porte, entre elas Fantasma da Ópera, Cabaret e A Bela e a Fera. Mas Os Miseráveis é a primeira da lista. As audições já estão sendo realizadas para que a produção estréie em março. "O seguinte deverá ser A Bela e a Fera", adianta o diretor.

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