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"O Avesso da Bossa" passa o Tropicalismo a limpo

O Multishow exibe hoje, às 21h30, documentário de Rogério Gallo que mostra os seus criadores, a geração influenciada por ele e encontros musicais inéditos

Por Agencia Estado
Atualização:

Para quem viveu a época, o Tropicalismo é um movimento musical que inaugurou uma espécie de vale-tudo na música brasileira: das bananas de Carmem Miranda ao bolero, do samba às influências da música internacional. Foi uma verdadeira saudação à liberdade de criação, com a cabeça no futuro e os pés fincados na cultura popular brasileira. O Tropicalismo, que aconteceu há 32 anos, ganha uma avaliação muito especial hoje, às 21h30, no Multishow. O Avesso da Bossa, programa da Videofilmes com direção de Rogério Gallo, busca, com os inventores, a melhor definição para o movimento e, com a nova geração da música brasileira, os elos com aquele passado recente. A história começa com Gilberto Gil e Caetano Veloso visitando a exposição que remontou a histórica instalação Tropicália, de Hélio Oiticica, no MAM do Rio de Janeiro. Entre tentativas de buscar a melhor definição para o Tropicalismo, as falas dos dois músicos são intercaladas por imagens que viraram ícones daquela época. O avesso do avesso - Mesmo passados tantos anos, tanto Gil quanto Caetano ainda têm dificuldade em traduzir em poucas palavras o que foi o Tropicalismo. Gil diz, a certa altura, que tudo o que queria era misturar Banda de Pífanos de Caruaru com Beatles. A síntese para Caetano é O Avesso da Bossa - que acabou dando nome ao programa. Tom Zé, mais lúcido do que nunca, passeia pelo Teatro Oficina ao lado de Arnaldo Antunes e Fred 04 - numa conversa deliciosa, pontuada por uma interpretação não menos estimulante de Parque Industrial e Tô, a três vozes. Um dos principais alicerces do movimento, Tom Zé esclarece de uma vez por todas o seu distanciamento de toda esta história. Houve quem achasse que ele foi preterido, colocado para escanteio. Ele diz uma frase que talvez explique tudo: "Você colabora com o seu enterro." O documentário que começa no Rio e passa por São Paulo dá um salto até o Bar Pina de Copacabana, em Pernambuco, com belas imagens do mangue e papo do percussionista Naná Vasconcelos com Otto e Jorge Du Peixe. Eles todos e a Nação Zumbi mostram, na prática, as influências tropicalistas, tocando e cantando de Panis Et Circensis, de Gil e Caetano, ao Trenzinho Caipira, de Villa-Lobos. Na Bahia, Capinam, outro pilar do movimento, faz a sua avaliação, enquanto Jorge Ben Jor visita o Candeal e encontra Carlinhos Brown e Margareth Menezes. O "passeio musical" termina onde começou: no MAM do Rio, agora com Lenine, Fernanda Abreu, Jovi Joviniano e Pedro Luiz e a Parede, arrasando em Jack Soul Brasileiro, entre outras. Filmado em vídeo e super 8, intercalado por trechos de antigos programas de tevê, O Avesso da Bossa, segundo Rogério Gallo, mais do que relembrar episódios essenciais da Tropicália queria também "provocar parcerias inéditas ou pouco comuns". E consegue. À parte o som de fundo "brigando" com o áudio de alguns depoimentos, o documentário traz um outro jeito de mostrar a pluralidade da nossa música. Com toda a competência da Conspiração Filmes nesta área, é muito interessante que surjam outras formas de olhar a música popular brasileira.

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