O aprendizado que se constrói com silêncios

Em seu primeiro romance, Carrascoza explora a poesia do cotidiano e as impossibilidades de comunicação

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Por GUSTAVO RANIERI
Atualização:

Na continuação da entrevista, João Anzanello Carrascoza fala sobre a importância do silêncio em sua prosa, especialmente para a escrita de seu primeiro romance, Aos 7 e aos 40, e sobre o papel do cotidiano para a compreensão da condição humana na literatura.Em Aos 7 e aos 40, o garoto descobre a tristeza ao notar um pássaro que para de cantar ao ser engaiolado, e a morte ao perceber a ausência de um vizinho idoso. Estou certo ao pensar que essa é a sua maneira de dizer que o mundo continua a ensinar por meio das sutilezas?O que está silenciado também está dizendo. Isso faz parte da linguagem, porque o dito traz os não ditos, pressupostos ou subentendidos. Contar esta historia a partir dos 7 é contar que o outro está presente em sua vida, você precisa dele e só ele consegue te justificar. E você pode aprender com qualquer coisa, inclusive com as banais. Como dizia Drummond, o cotidiano tem doses colossais de poesia. É nele que está a possibilidade de plenitude, de aceitação da vida, de compreensão da condição humana.Entretanto, parece que as personagens dessa história sofrem com a incomunicabilidade. Está correta essa análise?Sim, e é curioso porque eu sou professor de comunicação. Essas personagens amam uns aos outros, mas não conseguem se expressar no âmbito das palavras. Hoje, não há coisa mais vazia do que você dizer 'eu te amo' para uma pessoa. Então penso que a forma como eles se relacionam no livro já é um modo de dizer seu amor, por meio dos pequenos gestos, do silêncio, dos toques, do respeito ou de certa reverência ao perceber que o outro está vivendo o mesmo instante que você. Isso é uma comunhão. É preciso aprender a ler o outro.O tempo presente é mesmo, como você escreve, feito de todas as ausências?O presente só fica à medida que todo o resto não existe, não é mais e nem será.

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