
28 de março de 2011 | 00h00
O caso real a que se refere é o da agente da CIA, Valerie Plame (Naomi Watts), que tem a vida ameaçada e a carreira destruída quando seu marido, o diplomata Joseph Wilson (Sean Penn), denuncia a farsa em artigo publicado no New York Times. Na matéria, Wilson põe a nu a manipulação de informações sobre a suposta existência de armas de destruição em massa, criada para justificar a invasão do país de Saddam Hussein.
O filme, dirigido por Doug Liman, adota o formato de um suspense bem engendrado. Trabalhando com uma dupla de atores de fôlego e imprimindo ritmo tenso, Liman consegue prender a atenção do espectador do primeiro ao último fotograma, embora a aceleração às vezes dificulte a compreensão dos fatos. O que importa mesmo é a interseção entre a História e a vida pessoal dos protagonistas. Talvez aí haja algum exagero, como se o diretor não acreditasse na dramaticidade intrínseca dos fatos históricos e precisasse se apoiar numa crise de casal para dar mais colorido e vivacidade ao filme.
De qualquer forma, Jogo de Poder é mais uma celebração das virtudes da liberdade de expressão e informação. Na época, o governo Bush pôde mandar suas tropas ao Iraque, à revelia da ONU, mas montou uma farsa para justificar-se aos olhos da opinião pública. Quem cria uma farsa precisa sustentá-la. E isso é muito difícil, senão impossível, em ambiente de vigilância de uma opinião pública livre e sem o rabo preso. É um dos pontos de honra da cultura americana e o cinema não se cansa de louvá-lo - em histórias baseadas ou não em fatos reais - como pedra angular da democracia. Também parece ser tarefa do cinema mostrar que esse direito inalienável tem seu preço, que se paga às vezes com o sacrifício de vidas particulares. O preço da liberdade é a eterna vigilância, na frase atribuída a Thomas Jefferson.
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