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O alemão Alfons Hug será curador da Bienal de 2002

Pouco conhecido no Brasil, ele será o primeiro estrangeiro a desempenhar esta função

Por Agencia Estado
Atualização:

Após uma longa e desgastante crise, que ainda parece não ter chegado ao fim, a Bienal de São Paulo ganhou um novo curador-geral. O arquiteto e presidente da Fundação, Carlos Bratke, anunciou ontem em Lisboa o nome do alemão Alfons Hug para substituir Ivo Mesquita, que deixou o cargo no fim de julho depois de uma série de desentendimentos com o próprio Bratke. O nome de Hug - que será o primeiro estrangeiro a ocupar essa função - já vinha sendo aventado por Bratke, mas só foi confirmado depois que os dois se encontraram em Veneza no último dia 20, para se conhecerem pessoalmente e discutirem o projeto Iconografias Metropolitanas, enviado por Hug para a Bienal como sugestão de linha curatorial a ser seguida na mostra de 2002 (a 25ª edição da Bienal foi adiada por duas vezes consecutivas). O projeto agradou Bratke por lidar com problemas funcionais, sociais e políticos das cidades, mostrando o engajamento da arte em problemas urbanos. Tudo indica que a escolha de Hug atende um segundo objetivo, o de arrefecer os ânimos depois da crise com Ivo Mesquita, que contava com o apoio de um grande número de artistas, curadores e especialistas da área. O próprio Bratke confessa que buscou uma certa imparcialidade. "Ele não sofreria pressões de galeristas e colecionadores", disse ele em entrevista ao Estado antes de viajar à Europa. Para diminuir o impacto negativo da escolha de um estrangeiro quando há tanta gente qualificada no País, Bratke afirmou estar tentando estabelecer um sistema menos hierárquico, em que o curador-geral seria apenas uma espécie de coordenador, trabalhando em parceria com adjuntos brasileiros. Os nomes dos assessores ainda estão sendo definidos. Apesar de julgar natural a escolha de um estrangeiro num cenário de arte contemporânea extremamente internacionalizado, o diretor do Museu de Arte Contemporânea, José Teixeira Coelho, ressalta que talvez isso não seja bom para a Bienal, que pode perder parte de sua identidade. "Ainda acho que a Bienal devia ser uma conversa entre o local e o global. É do local que a gente fala para o mundo", pondera. A escolha do curador pegou muita gente de surpresa. Atualmente diretor do Instituto Goethe de Moscou, Hug é pouco conhecido no País, apesar de ter morado por seis anos no Brasil. O antigo vice-presidente da Bienal, Jens Olensen, jamais havia ouvido falar dele, apesar de ter grande tráfego no circuito internacional. O próprio presidente do Conselho da Bienal, Jorge Wilheim, não sabia da nomeação, mas diz acreditar que Bratke apresentará mais detalhes na próxima reunião do Conselho, em 6 de novembro - apesar de não ser obrigado a fazê-lo. O curador do projeto Brasmitte, Nelson Brissac Peixoto, que faz grandes elogios à sua atuação. "Ele vai oxigenar um pouco a instituição, abrindo espaços para novos repertórios e novas formas de expressão artística". Mas acredita que a parceria com os brasileiros será vital para garantir seu sucesso.

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