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Novos compositores da MPB se destacam no teatro

Por AE
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Já faz algum tempo que os musicais tornaram-se praticamente sinônimo de produções importadas da Broadway. A tradição brasileira no gênero, porém, vai muito além do modelo norte-americano. Tem passado ilustre - ligado a Chiquinha Gonzaga, Sinhô e Ary Barroso. Mas também não cessa de engendrar novas formas de se manifestar.A cena atual dá testemunho dessa capacidade de reinvenção do teatro musicado. Mesmo em espetáculos que não poderiam ser classificados como musicais no sentido estrito do termo, a música tem ocupado lugar de protagonismo. Não surge apenas como acessório ou elemento incidental, mas como parte da dramaturgia. E tem angariado compositores da nova geração da MPB.É o caso de Romulo Fróes. Festejado por álbuns como "Cão" (2006) e "No Chão Sem o Chão" (2009), o músico se experimenta agora como autor de trilha. Em "Oréstia", montagem da tragédia grega que cumpre temporada no Rio, ele assina as canções e a direção musical ao lado de Cacá Machado. "O que posso dizer da experiência é que me apaixonei de maneira irreversível!", conta Fróes. "Não vejo a hora de voltar a compor pra teatro e no futuro, quem sabe, pretendo escrever um musical, recuperando uma experiência que já foi muito importante dentro da música brasileira e que foi deixada um pouco de lado."Dirigido pela atriz Malu Galli, "Oréstia" concede às canções um posto de destaque. "Na tragédia, a parte do coro foi escrita para ser cantada. Não existe registro de que música era essa. Mas a métrica desse texto é musical", diz a encenadora. "Ao ser cantado, o coro instaura um estado de alma, uma atmosfera emocional, no espectador. Por isso não escolhi um autor de trilhas, mas um compositor que tivesse uma obra que dialogasse com a peça do Ésquilo. Romulo faz canções sofisticadas que são, ao mesmo tempo, muito simples."As composições cumprem ainda outras funções no espetáculo. Retiram da encenação qualquer aparência de realismo: característica do século 19 que ainda é marca dominante no teatro. Outro mérito é fazer o enredo avançar. "Desde o início, a Malu nos disse que a música conduziria o espetáculo, determinaria as passagens de tempo, os momentos de virada, as tensões, os conflitos", observa Fróes. "Ela não queria uma trilha somente de ''climas''. Era preciso que a música estivesse em cena, alterando a performance dos atores."A intenção é semelhante em "Jacinta". Com Andrea Beltrão no papel-título, a comédia carioca tem canções e direção musical a cargo do titã Branco Mello, que transformou a música em motor da trama.Escrita por Newton Moreno, a peça não foi concebida originalmente como um musical: Conta a saga de uma portuguesa, degredada para o Brasil no século 16 por ser a pior atriz de seu país. Ainda antes dos ensaios começarem, porém, o diretor Aderbal Freire-Filho diz ter sentido falta das canções. "A referência é (Bertolt) Brecht, que sempre usou a música para brincar, para quebrar a ilusão", pontua ele, que em produções anteriores já trabalhou com músicos como Jaques Morelenbaum, Rodrigo Amarante e Egberto Gismonti. Para "Jacinta", o diretor escreveu a maior parte das letras musicadas por Branco Mello e optou por manter os músicos permanentemente em cena.Assim como Freire-Filho, outros encenadores costumam fazer da música presença constante no teatro. Em São Paulo, Gabriel Villela e Elias Andreato são reconhecidos por transformarem a trilha em ponto alto de seus espetáculos. Coincidentemente, ambos encontraram em Daniel Maia um parceiro preferencial. Apenas em 2012, o músico compôs a trilha para 11 espetáculos de teatro e dança: entre eles, "And@ante", de Andreato, e "O Feio", de Alvise Camozzi, ainda em cartaz na cidade. Também este ano, o compositor esteve na Alemanha para criar a base musical do novo solo do coreógrafo Tadashi Endo: "Fukushima, Mon Amour". A obra, que estreou em Hannover, deve chegar ao Brasil em 2013. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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