Novo personagem de João Ubaldo Ribeiro é um padre amoral

Diário do Farol chega às livrarias na segunda-feira. Um clérigo sem nome, capaz de praticar crueldades improváveis como estupros, corrupção, blasfêmias, sevícias e até morte por envenenamento é o seu personagem principal

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Por Agencia Estado
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Isolado em uma ilha cuja única referência para o restante dos mortais é a luz de um farol, um velho religioso resolve inventariar sua vida, marcada principalmente pela maldade - estupros, corrupção, blasfêmias, sevícias, morte por envenenamento, um rol de crueldades do qual ele não se arrepende nem na última linha. A prosa irascível é a principal característica de Diário do Farol (Nova Fronteira, 304 páginas, R$ 25), o mais recente romance de João Ubaldo Ribeiro, que estará à venda a partir de segunda-feira nas livrarias do Rio e de São Paulo. Bastam as primeiras páginas para o leitor conhecer os motivos que levaram o clérigo (seu nome não é revelado, tampouco a época em que vive, sabe-se apenas que está com 60 anos) a cultivar tamanho ódio pelas pessoas. Órfão de mãe ainda pequeno, sempre desconfiou de que sua morte foi tramada pelo pai e pela tia que, depois de um prazo indecentemente curto, se casaram e armaram uma cumplicidade para atormentá-lo dia após dia. O ponto alto do tormento é quando impedem que ele freqüente o colégio militar e se torne piloto de caça, para empurrá-lo para o seminário. "Poderia fantasiar uma infância feliz, a exemplo de quase todo mundo, mas, naturalmente, pouquíssimas infâncias são tão felizes quanto as pintam e a minha foi infernal, não posso enganar-me", explica ele, nas primeiras linhas, denunciando o tom da narrativa - amoral e inescrupuloso, o clérigo auto-exilado desfia um rosário de maldades, praticadas com requinte de crueldade. E o seminário torna-se uma fonte imprescindível de aprendizagem do mal, como ele próprio reconhece: "Hoje sei que o seminário, como intuí desde o primeiro dia, era mais ou menos como uma penitenciária. Há muitos submundos nas penitenciárias e tudo se consegue, desde drogas a armas, a depender dos contatos que se fazem." O tom ao tratar da religião será o mesmo até o final do romance - cínico em seu relato, o clérigo expõe suas blasfêmias contra a vida de padres e bispos, além, é claro, dos praticantes. Ele chega até mesmo a ironizar a fé, dizendo que "católicos acreditam nas besteiras do catolicismo". Apesar do tom pessoal do relato, João Ubaldo Ribeiro busca, em seu novo romance, lançar uma reflexão sobre a condição humana e social, evitando soar panfletário e utilizando apenas uma prosa envolvente.

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