Novo ciclo de Ivens Machado

Exposição no Rio traz dez peças sem título, em que aparecem concreto, ferro, pedaços de telha e a rede de proteção, com a qual ele começou a trabalhar agora

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Por Agencia Estado
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O artista plástico Ivens Machado está começando um ciclo. Logo após montar a retrospectiva O Engenheiro de Fábulas, que iniciou carreira no Paço Imperial, no Rio, já esteve em São Paulo (Pinacoteca do Estado), em Curitiba (Museu de Arte Contemporânea) e atualmente passa por Vitória (Espaço Cultural da Vale), ele começou a trabalhar com material de construção, como as redes de proteção e o entulho deixado pelo uso do cimento concreto. O resultado está exposto na galeria Artur Fidalgo, em Copacabana, no Rio, até meados deste mês. São dez peças, todas sem título, em que aparecem concreto, ferro, pedaços de telha e a rede de proteção, com a qual ele começou a trabalhar agora. "Ela é diferente dos outros materiais que já usei, tem um movimento que eu não conhecia e queria explorar. É um processo de desconstrução e por isso, preencho com restos de concreto", conta o artista, que nega ser perfeccionista e tem até dificuldade de encontrar quem realize seus projetos. "Geralmente, eles querem fazer um acabamento bem-feito, simétrico e eu fujo disso. É difícil convencê-los." O concreto não é novidade na obra de Ivens, que nasceu em Santa Catarina e vive no Rio desde os anos 70. "Há mais de duas décadas trabalho com esse material, que é de difícil manipulação, pois tem uma aparência sólida, apesar de ser frágil. No início, eu usava cacos de vidro no concreto para que cada peça representasse o perigo, como deve ser toda obra de arte", ensina ele. Só mais tarde ele começou a usar também restos de telha, a partir do presente de uma amiga. "Ela tinha uma casa antiga em Cabo Frio e me cedeu o material. Desde então, trabalho com ele." As peças de agora têm formas indefinidas, embora bastante concretas. Machado conta que nunca nomeou suas obras para não influenciar o público. "É engraçado porque cada peça acaba recebendo um nome e até eu mesmo passo a chamá-las pelo título que foi dado pelas pessoas", conta ele. "É interessante acompanhar a reação às peças, pois as pessoas ficam curiosas, querem identificar o que vêem com algo que já conhecem e isso nem sempre é possível." É o caso da peça que ele construiu, a pedido da prefeitura do Rio, para a Rua Uruguaiana, uma área do centro da cidade por onde passam centenas de milhares de pessoas por dia. Trata-se de um gigantesco cilindro retorcido, que parece mover-se à medida que o espectador passa por ele. "Gosto de obras grandiosas porque dão maior visibilidade a meu trabalho. E tenho algumas espalhadas por aí, nos Museus de Arte Moderna do Rio e de São Paulo, e até na Itália", adianta Machado. "Agora, estou começando a trabalhar num pórtico de uma fazenda de um colecionador do interior de Minas. Ele construiu, perto de Belo Horizonte, em sua fazenda, pavilhões para abrigar os itens de sua coleção e me encomendou o pórtico. Vai ser um trabalho de 15 metros de altura por 20 de largura." Para o ano que vem, ele já está com a agenda cheia. Além do pórtico, deve expor no Armazém do Rio, um enorme galpão na zona portuária do centro da cidade e ainda pretende viajar com a exposição retrospectiva. "Vou levá-la para Florianópolis, minha terra, e para onde mais der, desde que seja possível cobrir os custos", conclui ele.

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