Nova versão da Bíblia será apresentada no Vaticano

Curiosamente, o Brasil também prepara há 20 anos uma versão unificada da Bíblia em português

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Por Agencia Estado
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No dia 29 de agosto, na Basílica de Superga, em Torino, Itália, uma comissão de estudiosos do Vaticano apresentará uma nova versão da Bíblia católica em italiano. Concebida para "eliminar erros de tradução", segundo o monsenhor Giuseppe Ghiberti, biblista e um dos 20 experts que estudaram por 12 anos os textos bíblicos, a nova versão traz grandes surpresas. Proposta pela Conferência Episcopal Italiana, será apresentada mundialmente por volta de abril de 2001. Uma das maiores mudanças diz respeito às mudanças de algumas expressões bíblicas consagradas pelo uso popular. Por exemplo: em lugar de "O Verbo se fez carne", a nova tradução optou por "O Verbo se fez homem". E uma péssima notícia para os exorcistas: a frase "Vade Retro, Satana" nunca teria sido dita por Jesus a Satanás. No lugar dela, será adotada uma nova exortação: "Satanás, segue-me." A presença de uma mulher na comissão, a biblista Laura Provera, deverá ter reflexos na leitura feminina dos textos sagrados. Foi Laura a responsável pela mudança significativa da frase "A mulher deve levar na cabeça um símbolo da sua dependência", contida na carta de São Paulo aos Coríntios. Na nova versão, a tradução ficará assim: "A mulher deve levar na cabeça um símbolo da sua autoridade." Segundo Provera disse ao jornal La Repubblica, o vocábulo grego original - ao contrário do que reiterou a tradução anterior da Bíblia, de 1971 - já não tinha o significado negativo de submissão, mas o sentido positivo de dignidade. "Isso aqui no Brasil não tem importância nenhuma, porque a gente fala português", disse o monsenhor Arnaldo Beltrami, vigário episcopal de Comunicação da Cúria Metropolitana de São Paulo. Segundo Beltrami, o que se faz necessário, no Brasil, é um texto sem "petulância", que possa ser compreendido. Ele cita o exemplo da palavra grega arquimagiro, usada por Bíblias eruditas, que significa o mesmo que mâitre, em francês. "Acontece que, se usarmos também mâitre o público em geral não vai entender, então seria mais adequado dizer que se trata de um chefe de garçons", exemplifica. Versão em português - Curiosamente, o Brasil também prepara uma versão unificada da Bíblia em português. O texto está sendo preparado há 20 anos pela Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e deve ser apresentado em agosto. Segundo a assessoria de imprensa da CNBB, o responsável seria o bispo de Colatina (ES), d. Geraldo Lírio, que esteve recentemente na Itália participando da Conferência Eucarística Internacional. Mas d. Geraldo Lírio disse que não é ele o encarregado, e sim o bispo d. Francisco Javier Hernandez, de Tinhangá (CE). A reportagem não conseguiu contato com o bispo cearense. D. Geraldo também não quis comentar as mudanças no texto italiano, para não cometer imprecisões, segundo afirmou. "O nosso trabalho está em elaboração e eu não saberia dizer o que muda", disse o bispo. A Bíblia encomendada pela CNBB pretende unificar o texto na liturgia e na catequese, justamente para evitar interpretações diferentes das dezenas de versões existentes - da mais "científica", a de Jerusalém, feita diretamente do hebraico e do grego, à ecumênica e à Bíblia popular da Pastoral dos Paulinos. A última versão oficial da Bíblia católica italiana foi proposta em 1971, quando a Santa Sé decidiu trocar a missa em latim pelo italiano. Mas ficou claro que se tratava de um texto provisório e, em fins de 1988, começou-se a estudar uma tradução definitiva, agora concluída. Mas essa tradução do Antigo e do Novo Testamento dos italianos ainda deverá ser examinada por uma nova comissão, em Torino. Se for considerada satisfatória, deverá ser enviada para o cardeal Martini, no Vaticano, para ser impressa. Versões diversas da Bíblia, em geral, apontam para conflitos ideológicos ou religiosos entre suas várias interpretações. Em 1992, por exemplo, a CNBB voltou-se contra a Edição Pastoral da Bíblia, publicada pelas Edições Paulinas. Segundo declarou na época d. João Evangelista Terra, o livro promovia uma leitura "marxista" da Bíblia. Na Edição Pastoral, os textos sagrados são precedidos de comentários que buscam associar os temas a assuntos atuais, como a corrupção e conceitos de lucro e trabalho. Sua inspiração é a Teologia da Libertação. Em 1995, a editora da Universidade de Oxford, em Londres publicou uma versão politicamente correta da Bíblia. Onde se lia "o filho do homem", surgia "pessoa humana". Em vez de "as esposas devem se submeter aos maridos", havia "as esposas devem ser comprometidas com os maridos". As referências à "mão direita de Deus" foram suprimidas para não ofender os canhotos. Até o início do Pai Nosso era alterado para "Pai e Mãe nossos que estais no céu". Claro que não foi levada a sério. A Bíblia Sagrada é um grande negócio, antes de tudo. Segundo a Sociedade Bíblica do Brasil, em 1998 foram vendidas cerca de 7 milhões de Bíblia, o que possibilita receitas ao mercado editorial do gênero de mais de US$ 140 milhões.

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