Nova edição da SP-Arte traz mais galerias estrangeiras

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Por AE
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As vendas de arte no Brasil mal chegaram a R$ 1,5 bilhão no ano passado, representando em torno de 1% do mercado global, segundo estimativa de especialistas, mas, a despeito desses números ainda modestos, as galerias estrangeiras fazem mais do que acompanhar a movimentação do comércio de obras. Elas já representam metade das galerias brasileiras reunidas na concorrida SP-Arte, feira que chega nesta quarta-feira à nona edição como uma espécie de termômetro desse mercado, cuja temperatura está em alta desde que o número de colecionadores começou a crescer com a valorização de artistas brasileiros em leilões internacionais. Galerias estrangeiras como a Gagosian, a White Cube e a Pace, três das maiores entre as 41 que dividem espaço com 81 brasileiras, não entraram na feira para disputar artistas, mas colecionadores brasileiros - para a arte estrangeira que trazem, naturalmente. E há de tudo à venda nelas: do sério construtivista alemão Josef Albers (1888-1976), representado por obra de sua mais conhecida série, "Homenagem ao Quadrado" (iniciada em 1949), ao americano Jeff Koons, o rei da arte paródica, uma das estrelas da Gagosian, cujo preço médio está por volta de US$ 6 milhões.Esta é a edição com maior índice de galerias estrangeiras, representando 16 países, entre eles os maiores mercados do mundo, destacando-se os EUA (com 33% das vendas mundiais) e Inglaterra (23% do mercado). O Brasil está no mesmo nível da Itália e Suécia (1%), mas, entre os emergentes, é o que cresce de forma mais acelerada. Os estrangeiros não são bobos. Conhecem o potencial do negócio. Até agora, brasileiros só compravam brasileiros, mas, com o crescimento econômico do País, os colecionadores já disputam obras estrangeiras, de maior cotação e liquidez. E terão nomes à escolha na feira. Só a Pace, galeria fundada nos anos 1960, em Boston, com ramificações em Nova York, Londres e Pequim, traz Albers, Tapiès, Chuck Close e Calder, cujos móbiles podem custar até US$ 20 milhões (não há obras dele com esse preço na feira)."Por enquanto não temos artistas brasileiros, mas há muito interesse em Londres pela arte contemporânea produzida aqui e estamos planejando uma mostra em 2014 lá", confirma Elizabeth Esteve, representante da Pace. Filha do empresário e colecionador Kim Esteve, ela, a exemplo de outros galeristas estrangeiros, não ignora a ascensão do mercado chinês, mas aposta no Brasil como a bola da vez. Susan May, curadora da galeria White Cube, que se instalou em São Paulo, comparando o mercado chinês e brasileiro, vê o último como "mais cosmopolita e sofisticado". O fato é que os chineses vão buscar obras antigas para repatriar as raridades saqueadas pelos ocidentais (os chineses importam o dobro do que exportam). Os brasileiros, até pela recente história do País, preferem comprar arte contemporânea - e a galerista Nara Roesler oferece a eles o best seller Vik Muniz, embora também promova estrangeiros como o inglês Isaac Julien e não tema a concorrência das galerias estrangeiras. "Eles trazem artistas internacionais importantes para a feira e o know-how, que é essencial para a promoção dos nossos artistas."A presença dos contemporâneos brasileiros nos leilões internacionais contra a ausência dos modernos brasileiros no mercado externo, por exemplo, pode ser compensada pelo livre trânsito dos galeristas estrangeiros, capazes de promover lá fora a arte de gênios como Volpi, hoje nas mãos de 10 colecionadores brasileiros (se tanto), apenas aguardando o assédio dos curadores de museus e marchands estrangeiros (que demora, mas certamente virá, como veio para Hélio Oiticica e Mira Schendel). O galerista Paulo Kuczynski, antecipando-se a essa possível ressurreição modernista, mostra em seu stand três desenhos raríssimos que Di Cavalcanti fez um ano antes da Semana de Arte Moderna de 22. Eles pertencem a uma série de 16 trabalhos chamada "Fantoches da Meia-Noite", feita para um livro de artista publicado por Monteiro Lobato (apenas 50 exemplares). "Hoje é grande a dificuldade de reunir toda a série, que deveria ir para um museu, assim como a obra de outros modernistas", diz, alertando para o interesse que os museus estrangeiros demonstram pelos brasileiros (a Tate, que abre em janeiro de 2014 uma mostra de Mira Schendel, já pensa em Volpi, garantem fontes do mercado).A difusão da obra, tanto dos modernos como dos contemporâneos brasileiros, é um papel que a SP-Arte tem cumprido, oferecendo um panorama aos visitantes estrangeiros, que crescem a cada ano, embora ainda representem apenas 4% do público (20 mil pessoas em 2012), segundo a criadora e diretora da feira, Fernanda Feitosa. Ela desenvolveu uma estratégia não para concorrer com feiras mais antigas (como a Art Basel, que tem 52 anos), mas para divulgar a arte brasileira aqui e lá fora: além de incentivar compras para doações a museus, abriu um laboratório curatorial destinado a novos profissionais, cujos projetos de exposições premiados (com obras de galerias participantes) vão garantir a quatro autores bolsas para Veneza e Istambul. "Os jovens curadores precisam ir lá fora conhecer os artistas estrangeiros", justifica. Num mercado globalizado, faz todo o sentido. As informações são do jornal O Estado de S. Paulo.

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