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Nova Dança anuncia fim do projeto "Terças"

Programa termina por falta de patrocínio e apoio para a sua manutenção

Por Agencia Estado
Atualização:

Mais uma porta se fecha em São Paulo para as artes cênicas. Em agosto de 1995, o Estúdio Nova Dança criou um evento para preencher o vazio das terças-feiras, um dia considerado morno dentro da programação cultural. O Terças de Dança foi concebido como uma oportunidade para artistas apresentarem suas pesquisas e trabalhos, sem compromisso com o ineditismo ou grandes produções. Em uma cidade onde a dança é negligenciada, não possui um teatro com programação contínua e os espetáculos ficam poucos dias em cartaz, o Terças significava uma saída, principalmente para os alternativos. Uma boa idéia que chega ao fim por falta de patrocínio e apoiadores. "Chegamos ao nosso limite. Sempre mandamos projetos para as leis de incentivo e outros concursos, nunca tivemos reconhecimento nesse sentido. Perdemos o fôlego, estamos desestimuladas para o fomento cultural e vamos canalizar nossa atenção para outras atividades, como os workshops e cursos", diz uma das diretoras, Tica Lemos. Em sete anos de existência, pelo menos nos cinco primeiros as atividades contaram com apresentações semanais, uma média de três por noite. Nomes como Sonia Mota, Denise Namura, Mariana Muniz, Vera Sala, Lela Queiroz, entre outros, marcaram presença por lá. O Terças firmou-se como um espaço democrático, que acolhia artistas de diversas tendências, até mesmo profissionais de outras áreas, fora da dança, o que garantia a diversidade da programação. Artistas de diferentes partes do Brasil apresentaram seus trabalhos, assim como convidados internacionais. "Nunca houve um trabalho negado. Às vezes demorávamos para atender, mas sempre dávamos um jeito de acomodar todos. Quando começamos, era difícil atrair pessoas, não havia confiança. Depois, viram que o projeto era sério e a disputa por espaço aumentou." A continuidade da programação possui um papel fundamental na formação de platéia. "Conquistamos o público, o número de pessoas nas apresentações era variável, mas pessoas de diferentes tribos compareciam com freqüência. Criamos uma comunidade, as pessoas trocavam figurinhas com os artistas, havia um encontro de fato." Bastidores - Para fazer o Terças caminhar, sem verba, o Estúdio contava com o apoio de colaboradores - pessoas responsáveis pela produção, iluminação e som das apresentações -, pagos em forma de aulas. "No início houve falta de seriedade por parte de alguns, tínhamos de improvisar. Depois, os bolsistas assumiram o projeto, desempenharam suas funções da melhor maneira possível." A sala de ensaios era totalmente modificada por esses alunos para as apresentações. O preço simbólico cobrado na bilheteria, R$ 5, era dividido: parte utilizado para a manutenção dos equipamentos e outra para o artista. Em alguns breves momentos, com apoio de parceiros, o grupo pôde liberar os ingressos para os artistas, produzir material gráfico e ainda investir no projeto como a compra de uma mesa com 12 canais para luz. O grupo conquistou o Prêmio Mambembe 95 (Funarte) e da Associação Paulista dos Críticos de Arte como melhor evento do ano em 1996.

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