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Nos tempos do jornalismo romântico

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Por Redação
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Crítica: Luiz Zanin OricchioJJJJ ÓTIMOJJ REGULAR Com Johnny Depp, Diário de Um Jornalista Bêbado é baseado no romance The Rum Diary, de Hunter S. Thompson. Depp é Paul Kemp, o repórter que vai a Porto Rico tentar a sorte num jornal decadente. Veem-se boas cenas de jornalismo old school (a história passa-se no início dos anos 1960). Naquele tempo, jornalista bebia, fumava e jogava. Ah, também corria atrás de notícia e escrevia. Mas, como tudo o que envolve Hunter Thompson, também esta história transforma-se em aventura. Parece que ele tinha faro para as complicações. E estende esse instinto ao personagem, que acaba envolvido com um escroque de negócios imobiliários e, acima de tudo, com a namorada do mafioso. Há uma frase boa, de Oscar Wilde, solta no meio do filme: "Eles conhecem o preço de tudo, mas não sabem o valor de nada". Diante de um mar estupendo daqueles, o antagonista de Kemp fica apenas pensando em quanto aquela vista pode render se ele construir hotéis, apartamentos, etc. Ou seja, quando vai faturar ao destruir o paraíso. A frase serve para mostrar de que lado Kemp está. A questão pessoal do personagem de Depp é encontrar "sua própria voz". Isto é, seu estilo. Sua assinatura. Tudo o que escreve lhe parece vindo de um outro, o que é angústia de todo escritor (a sua fantasia fundamental: isso aqui poderia ter sido escrito por qualquer um; eu não estou no texto). No meio da aventura, sua voz virá "da tinta e da raiva". E encontrará na pena (ou na máquina de escrever) a arma para fustigar os poderosos do mundo. Entre essas declarações de princípios, o filme respira em cenas engraçadas de bebedeira e piração, luz solar e esplêndidas paisagens. Com tanto charme, chega a ser quase bom. Feitas as medidas justas, parece meio raso. Mas diverte.

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