
25 de janeiro de 2011 | 00h00
Pelos depoimentos, lembramos de como os intérpretes às vezes eram tão ou mais importantes do que as músicas. A Estrada e o Violeiro era longa demais, mas Nara Leão a defendeu com sua classe inigualável. Mesma coisa para Bom Dia, quando Nana Caymmi enfrentou com serenidade um início de vaia e virou a plateia para seu lado.
Outro capítulo interessante é o das torcidas. Alguns dos torcedores mais atuantes da época são levados ao Teatro Paramount e entrevistados. A mais famosa era Telé Cardim, que chegou a entrar disfarçada de grávida, de óculos escuros e com a peruca de Nara Leão para driblar a proibição dos seguranças. É dela o melhor depoimento: "Aqui dentro era um território livre, a gente podia desabafar e até gritar "abaixo a ditadura". E a vaia era um desabafo; claro que tínhamos as nossas favoritas, mas não havia música ruim no festival."
Há outros que brilham por sua ausência. A mais notória, a do compositor e cantor Geraldo Vandré, que participou com Ventania, feita com Hilton Acioly. Não existem imagens de Vandré, nem de época nem de entrevistas recentes, mas as referências a ele são intrigantes. Uma menção a Vandré é de Ferreira Gullar, que foi jurado da final em 67. "Fomos nós, do Partido Comunista, que demos fuga a ele." Há outras versões da fuga de Vandré, que até teria sido ajudado pela família de Guimarães Rosa.
Enfim, sobre aqueles tempos turvos há mais versões do que fatos. A história ainda está por ser escrita.
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