Nos EUA, e-books dominam a preferência

Com os eletrônicos, as editoras norte-americanas registraram um crescimento de 3,1% nas vendas entre 2008 e 2010

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Por Lúcia Guimarães
Atualização:

As vendas de livros de papel continuam a cair nos Estados Unidos, mas, na semana passada, o mercado editorial encontrou motivo para comemorar. Graças aos livros eletrônicos, as editoras americanas registraram um crescimento de 3.1% nas vendas entre 2008 e 2010. Os números foram compilados pelo projeto BookStats, que monitorou as vendas de 1.965 editoras. O segmento que mais cresce no mercado americano é o de livros universitários e o único que registrou declínio foi o de obras educativas, que cobrem o período que vai do jardim de infância ao final do ensino médio.As vendas de e-books de ficção para adultos dispararam 1.000% nos EUA desde 2008. Este avanço, que deu ao e-book 13.6% do mercado de ficção, explica a queda contínua das vendas de ficção em papel. Os livros de ficção em capa dura foram os que perderam mais terreno: em 2009, os americanos compraram 8.5 milhões de cópias; em 2010, o número caiu para 7 milhões e, até julho deste ano, o serviço Nielsen BookScan registrou uma queda de 10% nas vendas em relação a 2010. O jornal Financial Times batizou esta temporada de "verão do Kindle". O tablet da Amazon continua líder do mercado. A empresa acaba de lançar o Kindle Cloud Reader, um aplicativo para a web que permite acesso ao catálogo da Amazon com ou sem o Kindle. Mais uma dor de cabeça para a Apple, cujo popular iPad não vai poder cobrar pedágio do novo aplicativo. As vendas de e-readers têm triplicado a cada ano. Os leitores já têm até seus prediletos. Pela primeira vez, em julho, a revista Consumer Reports, respeitada pela independência em relação às corporações, apontou o Nook Simple Touch, da rede de livrarias Barnes & Noble, como favorito do público leitor.O avanço da leitura eletrônica provoca também uma reinvenção do livro como produto. Assim como os DVD"s incorporaram cenas inéditas de filmes, versões mais autorais dos diretores e entrevistas com atores e roteiristas, os livros eletrônicos vão sendo lançados com atrativos além do conteúdo original escrito pelo autor. Nem toda obra merece o tratamento, é claro. Mas clássicos ou títulos de autores-celebridades já começam a chegar ao público com "extras". A nova edição de A Terra Desolada (The Waste Land), de T.S. Eliot, lançada pela Faber Digital inglesa, por exemplo, pode ser baixada no iPad com áudio do próprio poeta e mais versos declamados pela estimada atriz irlandesa Fiona Shaw e pelo megafamoso ator americano Viggo Mortensen, além de cópias do original, datado de 1922. Na última terça-feira, a editora independente Melville House, baseada no Brooklyn, em Nova York, lançou sua série HybridBook, que pretende deter a canibalização da palavra impressa, oferecendo incentivos digitais. Ela começa com romances que têm em comum o título O Duelo, dos autores Giacomo Casanova, Anton Chekhov, Joseph Conrad, Heinrich Von Kleist e Alexander Kuprin. Quem comprar o livro impresso vai encontrar, na última página, um link para os extras digitais presentes na edição eletrônica para o Kindle. A tecnologia da leitura eletrônica está em evolução e ainda predominam os dois formatos representados pelo Kindle - e-Ink, a tinta eletrônica - e a tela de cristal líquido do iPad. No prestigiado laboratório de ergonomia da Universidade de Cornell, o professor Alan Hedge parece a autoridade ideal para opinar sobre o efeito da leitura na tela. Afinal, no começo deste século, ele fazia parte da equipe que desenvolvia o multitoque para uma pequena companhia que foi engolida pela Apple e, como se diz, o resto é história. "Qual é a escolha ideal para quem quer proteger a vista?", pergunto. A resposta vem fulminante: "O papel!". As árvores que o perdoem, mas o pesquisador diz que ainda não foi inventada a tela capaz de competir com o papel em matéria de conforto para a leitura. É o suficiente para o velho livro?

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