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Nós do Morro estréia "Noites do Vidigal" em SP

Grupo criado há 15 anos no Morro do Vidigal, no Rio, vem a São Paulo pela primeira vez apresentar a elogiada comédia musical centrada no triângulo amoroso entre um mestre-sala, uma porta-bandeira e um compositor de escola de samba

Por Agencia Estado
Atualização:

Há 15 anos, o ator e diretor Guti Fraga iniciava no Morro do Vidigal, no Rio, um curso de teatro reunindo alguns jovens moradores da comunidade local. Com Fraga, embarcaram nessa aventura o cenógrafo Fernando Mello da Costa e o jornalista Luiz Paulo Corrêa e Castro. Nascia aí o grupo Nós do Morro que vem pela primeira vez a São Paulo trazendo o espetáculo Noites do Vidigal, para apenas quatro apresentações, a partir de amanhã, no Sesc Ipiranga, em São Paulo, com entrada grátis. Depois de anos de trabalho persistente, apaixonado e rigoroso, a arte do grupo dá um salto de qualidade e o resultado deixa de ser importante unicamente por sua inserção social - o espetáculo que o público paulistano verá foi unanimemente elogiado pela crítica ao cumprir temporada no circuito profissional carioca. A primeira grande diferença entre o Nós do Morro e outros projetos semelhantes unindo arte e cidadania está no fato de sua liderança viver na comunidade. Guti Fraga nasceu em Mato Grosso e vive no Morro do Vidigal desde 1977. Luiz Paulo Corrêa e Castro nasceu no Vidigal. Embora não viva no morro, Mello da Costa - cenógrafo premiado por trabalhos criados para Bia Lessa e Moacir Chaves (O Sermão da Quarta-Feira de Cinza e Bugiaria) - mantém ali o seu ateliê e criou todos os cenários do grupo, desde sua fundação. E ele assina a direção, em parceria com Fraga, de Noites do Vidigal. Outra característica importante na trajetória do grupo é alternar criações próprias com espetáculos baseados em peças tradicionais. Assim, o primeiro trabalho chamado Encontros tinha como tema o dia-a-dia no Vidigal em texto assinado por Corrêa e Castro e Tino Costa que "costuraram" depoimentos daqueles primeiros alunos de teatro. Em seguida, encenaram um texto de Ariano Suassuna. Peças de Martins Pena e José Vicente subiram ao palco do pequeno teatro (80 lugares) construído pelo atores, sempre intercaladas com criações coletivas como Biroska. "A gente aprende com os clássicos, reaproveita esse aprendizado para falar de nossas vivências em comunidade e, por extensão, da sociedade brasileira e, depois, volta aos clássicos para novo crescimento", diz Fraga. A comédia musical Noites do Vidigal, considerado pela crítica carioca o espetáculo mais bem-sucedido da carreira do grupo, integra a categoria criação própria. O trama do texto assinado por Corrêa e Castro está centrada num triângulo amoroso formado por um mestre-sala, uma porta-bandeira e um compositor da Escola de Samba Acadêmicos do Vidigal. Tião, o charmoso mestre-sala é um dos homens mais admirados, respeitados e "desejados" do morro, mas mesmo assim não consegue conquistar o amor da porta-bandeira Aparecida. Isso porque a moça mais bonita da comunidade só pensa em abandonar o morro, mudar de vida e viver "no asfalto", como se diz na gíria sobre os que vivem "lá embaixo", na orla marítima. A intromissão do compositor nessa história acaba em trágico desfecho. "O triângulo amoroso é o fio condutor dessa história que está ambientada na década de 70. Na verdade, a idéia foi resgatar uma atmosfera cultural específica que a ocupação desordenada destruiu. Resgatar um tempo em que havia muitas árvores e, apesar da violência e da precariedade de sempre, ainda havia muita festa. Onde estão hoje as donas Zicas e donas Neumas? Essa cultura tende a desaparecer", observa Fraga. No palco, 27 jovens atores da comunidade do Vidigal interpretam os 32 personagens dessa história - sambistas, boêmios, malandros, pivetes e policiais. "Não são personagens com perfis psicológicos definidos. São tipos", diz Fraga. O tom é farsesco e a estrutura é de musical. O enredo é contado por meio de cenas fragmentadas e de cinco músicas, criadas especialmente para o espetáculo. A cenografia tem vários planos, escadas e plataformas que dão idéia da geografia irregular e labiríntica comum a todas as comunidades situadas nos morros cariocas. O Nós do Morro mantém ainda um núcleo de cinema e mais de 300 garotos freqüentam os cursos dirigidos pelos atores da companhia. "E temos um ótimo patrocínio da Petrobrás, o que facilitou muito a manutenção do grupo. Temos motivos para comemorar nosso aniversário de 15 anos", conclui Fraga. Noites do Vidigal. Texto Luiz Paulo Corrêa e Castro. Direção Guti Fraga e de Fernando Mello da Costa. Duração: 75 minutos. Quinta e sexta, às 21 horas; sábado e domingo, às 18h30. Grátis (retirar convites com 1h30 de antecedência). Sesc Ipiranga. Rua Bom Pastor, 822, São Paulo, tel. 3340-2000. Até domingo.

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