
25 de março de 2010 | 00h00
Descontando-se os exageros como sua receita de perversidade polimorfa, de difícil execução, ainda mais na minha idade, Brown foi extraordinário por ser o primeiro ? e, até agora, pelo que sei, o único ? a preferir Freud como um pensador social e um antropólogo antes de um estudioso da mente e seus desvios e a segui-lo nesse caminho. E, no entanto, as análises históricas de Freud, em livros sobre as origens da civilização e das religiões e sobre mitos primevos como Totem e Tabu e Moisés e o Monoteísmo, são mais importantes do que suas descobertas sobre o subconsciente e seus métodos de terapia individual, hoje em grande parte, pelo que se ouve, substituídos pela química. Freud botou toda a condição humana no divã, mas só quem se beneficiou disso foram poucas almas desgarradas querendo fugir da neurose e voltar ao normal. Mas, escreveu Brown, na nossa civilização o "normal" é que é a neurose.
Brown publicou vários livros além de Vida Contra Morte. Em Love"s Body recorreu, sem preconceito, à exaltação do corpo místico da escatologia religiosa como exemplo da reconciliação de corpo e espírito, e do triunfo final de Eros. Em outro livro, Closing Time, tratou da influência de Giambattista Vico no Finnegans Wake do James Joyce, de maneira fascinante, apesar de em partes quase tão indecifrável quanto o livro de Joyce.
Brown morreu em 2002, com 89 anos de idade. Obrigado, Google.
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