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No Sesc, ´Hamlet´ com roupagem latino-americana

Peça de Shakespeare é encenada em São Paulo por grupo teatral venezuelano

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Por Redação
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Uma das peças mais famosas e encenadas de toda a história, Hamlet, de Shakespeare, ganha uma roupagem que deve causar surpresa. Especialmente porque a história é transportada para um universo que diz muito sobre nós, latino-americanos. Somente sábado, 14, e domingo, 15, o grupo teatral venezuelano Teatro del Contrajuego apresenta, no Sesc Consolação em São Paulo, o texto magistral do dramaturgo inglês escrito no século 17 - e que como toda obra clássica parece ser mais contemporânea do que nunca. "Representar, na Venezuela, todo aquele jogo de poder contido em Hamlet ressoou demais. A analogia entre o enredo teatral e a tentativa de implantação de um sistema revolucionário de Chávez foi inevitável", conta o protagonista do espetáculo Ricardo Nortier. O intérprete do príncipe Hamlet é brasileiro e vive há 10 anos em Caracas. Teve de trabalhar duramente para construir seu personagem e convencer falando o castelhano. "Acabou gerando uma certa controvérsia na classe artística venezuelana, o que é natural. Treinei muito, realizei alguns trabalhos na TV de lá e hoje, após dois em cartaz, quem assiste pensa que sou de alguma parte da Venezuela ou da Espanha", relembra. O mineiro nascido há 37 anos em Belo Horizonte está, agora, estranhando o fato de vir ao Brasil e falar espanhol, com direito a legendas. "Que ironia do destino, não?", diverte-se. Quando se formou em 1993 no Palácio das Artes, na capital mineira, pensou alto: "Vou interpretar Hamlet ao completar 36 anos." Pelo visto, um anjo passou e disse amém. "Sabe aquele tipo de loucurinha que de vez em quando temos e que o destino cumpre?" Cenário e trilha O cenário e os figurinos, respectivamente desenhados por Jesús Barrios e Desireé Monasterios, sob supervisão do diretor Orlando Arocha, são os elementos que reforçam essa analogia com a realidade sul-americana. "No lugar do castelo, um quarto de um barraco de uma favela", conta Nortier. O que acaba por contrastar fortemente com os figurinos luxuosos. "Há um retrato da falsa aparência no reino da Dinamarca. É a destruição de uma realidade política, social e econômica, mas que ainda luta para manter a boa aparência", complementa. A trilha sonora é permeada por canções folclóricas e populares de Cuba, da Argentina e da região caribenha. Na cena em que Ofélia enlouquece por uma suposta rejeição de Hamlet, a rubrica de Shakespeare diz que ela canta algumas músicas tradicionais inglesas. Na montagem venezuelana, a personagem entoa canções da dupla argentina Pimpinela, tida como ícone portenho brega dos anos 80. "O público vem até nós, para dizer que nunca imaginava que conseguiria chorar com as músicas do Pimpinela." O Teatro del Contrajuego levará Hamlet ao Festival de São José do Rio Preto (FIT), que teve início na segunda-feira. Apresentam-se no Teatro Municipal rio-pretense nos próximos dias 18 a 21. A partir do dia 3 de agosto, Nortier e o diretor Arocha seguem para o Teatro da Gávea, no Rio, com o monólogo Apuntes de Cocina de Leonardo da Vinci, em português Notas de Cozinha. O texto da peça foi livremente inspirado nas anotações gastronômicas e em alguns manuscritos, que de acordo com Marino Albinesi, promotor de Justiça em Roma e presidente do Círculo Enogastronomico d’Italia, podem ter pertencido a Leonardo da Vinci. Hamlet. 225 min. (c/ intervalo). 14 anos. Leg. em português. Teatro Sesc Anchieta (320 lug.). R. Dr. Vila Nova, 245, 11-3256-2281. Sábado, 20 h; dom., 18h30. R$ 5 a R$ 20

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