No Rio, acervos de arte abstrata para analisar e apreciar

Raymundo Castro Maya, bon vivant carioca da primeira metade do século 20, e João Sattamini, empresário, criaram acervos com a melhor arte produzida no Brasil

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Por Agencia Estado
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Cada um a seu tempo, Raymundo Castro Maya, bon vivant carioca da primeira metade do século 20, e João Sattamini, empresário dos dias de hoje, criaram acervos com a melhor arte produzida no Brasil. Eles têm em comum o gosto pela diversidade, a vontade de incentivar artistas e a determinação de tornar suas obras acessíveis ao público. A mostra Encontros da Arte Abstrata, desde ontem na Chácara do Céu, possibilita comparar as duas coleções. São 59 obras, a maioria de brasileiros e contemporâneos dos colecionadores. Não por acaso, a Chácara é a antiga casa de Maya, que doou seu acervo à fundação que leva seu nome e administra também o Museu do Açude. Sattamini cedeu o seu, em comodato, ao Museu de Arte Contemporânea de Niterói e ultima as providências para deixá-las em exposição permanente. "Comparar coleções é analisar o gosto de cada época e a história da arte no período em que o acervo foi juntado. No caso de Castro Maya e Sattamini, fica clara a inclinação pela vanguarda, embora o primeiro tenha se ligado mais no lirismo e o segundo prefira o concretismo", diz a curadora da mostra, Anna Paola Baptista, que já organizou outras comparando o acervo de Castro Maya com o de José Mindlin, Hecilda e Sérgio Fadel e do poeta Murilo Mendes. "É um programa da Chácara e uma coleção preenche as lacunas da outra. Agora escolhemos arte abstrata porque, com os dois acervos, pode-se traçar a trajetória desse estilo, de seu aparecimento no início do século 20 até hoje." A diretora dos Museus Castro Maya, Vera Alencar, lembra que quase todo o acervo abstrato da Chácara está na mostra, mas só pequena parte da coleção de Sattamini no gênero está lá. Enquanto o primeiro não parece ter se deixado seduzir pelo abstracionismo, embora incentivasse os jovens, o segundo não esconde seu interesse por esse estilo. "Maya apostou em artistas hoje consagrados no mercado, como Antônio Bandeira, Iberê Camargo e Tomie Ohtake, no momento em que eles estavam surgindo. Mas há outros, cujo prestígio não se confirmou com o tempo", comenta a curadora. A coleção de Castro Maya tem Bandeira, Fayga Ostrower, Ivan Serpa e Aloísio Carvão, modernista, e Sattamini vem com Hélio Oiticica, peças de Lygia Clark, Joaquim Tenreiro, Ione Saldanha e quadros de Aluísio Carvão. Mas lá estão também Milton Dacosta e Maria Leontina ou Alfredo Volpi, que bem caberiam na coleção de Castro Maya. Iberê Camargo e Lygia Clark são os únicos que estão nas duas coleções. Encontros da Arte Abstrata é a primeira mostra na Chácara do Céu após o assalto ocorrido na sexta-feira antes do carnaval, quando foram roubadas obras de modernistas como Picasso, Monet, Matisse e Dalí. O incidente ainda não foi esclarecido nem as peças reapareceram, mas o museu tomou providências: "Há câmeras ligadas ininterruptamente à Polícia Federal e todo o aparato exigido pela companhia seguradora", garante Vera. "E o fato de Sattamini emprestar obras de seu acervo para o museu é o melhor aval de sua segurança."

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