No palco, um símbolo de geração fútil e consumista

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Por Maria Eugenia de Menezes
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Quando chegou às livrarias, no começo dos anos 2000, o romance de estreia de Lolita Pille Hell - Paris 75016 foi saudado como retrato de uma geração degenerada. De suas duas centenas de páginas, emerge a trajetória trágica de uma personagem fútil. Coberta de Gucci e Prada, uma menina desfila pelos endereços de luxo da capital francesa e se entrega vorazmente ao sexo e às drogas. Diz ter nojo de si mesma. "Sou uma putinha. Daquelas mais insuportáveis. Da pior espécie." No palco do Teatro do Sesi, quem defende a personagem-título do romance de Pille é a atriz Bárbara Paz. Dirigida pelo marido, o cineasta Hector Babenco, Bárbara vive a protagonista de Hell, espetáculo que abre temporada a partir de quinta, e diz ter encontrado um papel na medida do que procurava. "A princípio, não senti muita afinidade - ela parece vir de um mundo distante do meu - mas é uma personagem de grande carga dramática e acho que esse tipo de papel me cai bem", comenta a atriz, que recentemente foi vista na televisão na pele da problemática Renata, a moça anoréxica e algo perturbada da última novela de Manoel Carlos, Viver a Vida. "Estamos falando de um mundo fútil de consumo. É uma história que se passa em Paris, mas aqui isso é assim também. Basta ver a quantidade de lojas de grife que são abertas." Foi Bárbara quem descobriu o romance e entregou a Babenco para que ele o lesse. "Quando ela me mostrou o texto, achei um lixo", comenta o diretor. "Um tempo depois, achei o volume perdido e fui ler de novo. E aí me pareceu que havia ali uma coisa maldita que merecia ser resgatada." Quem ajudou Babenco na tarefa de transpor o livro para o teatro, foi o diretor e dramaturgo Marco Antonio Braz. A adaptação resultou em um espetáculo de cerca de 70 minutos, mas manteve uma estrutura muito próxima à do romance. Quase sem interação entre os atores, a peça não tem mais do que dois ou três diálogos. Pequenos favores ao espectador, para que ele consiga "entrar" na história. Na maior parte do tempo, é como se Bárbara e Ricardo Tozzi (que interpreta o bon vivant Andrea) defendessem dois monólogos paralelos. Hell é uma anti-heroína. Uma jovem rica e infeliz que desperdiça as noites nas boates do "arrondissement" mais caro de Paris. "Somos todos belos e somos todos ricos", diz ela. "Andamos a 200 por hora nas ruas de Paris, misturamos birita com fumo, o fumo com pó, o pó com ecstasy. A gente toma Prozac como vocês tomam Melhoral." Tragédia. A principal distinção entre o livro e sua montagem teatral fica por conta da nítida curva dramática que Babenco e Braz fizeram questão de desenhar. Concentraram-se na grande tragédia que existe na vida de Hell: sua impossibilidade de se entregar e sustentar um relacionamento mesmo quando ama.HELLTeatro do Sesi. Avenida Paulista, 1.313, metrô Trianon-Masp, tel.: 3146-7405. 5ª a dom., 20 horas. Grátis (5ª e 6ª) / R$ 10 (sáb. e dom.). Até 19/12.

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