PUBLICIDADE

No palco, um libelo contra a apatia

Nova coreografia de Marcelo Gabriel Cada dia nos Alegramos de Continuar Vivendo e já Estarmos Mortos registra indignação contra apatia política dos jovens de hoje

Por Agencia Estado
Atualização:

A Cada dia nos Alegramos de Continuar Vivendo e já Estarmos Mortos, a nova coreografia de Marcelo Gabriel ao lado da Companhia de Dança Burra, pode ser compreendida como um manifesto contra a globalização. Mais que isso, o solo discute a apatia da juventude diante da política e dá seqüência à tetralogia da memória ancestral do homem contemporâneo - uma série de coreografias denominadas Danças do Abismo, que investigam a memória e os arquétipos do homem contemporâneo. A pesquisa traz à tona temas ligados às minorias, como no trabalho anterior, O Útero Cromosserial, que tratava da cultura indígena, mais especificamente dos rituais xamânicos. Em A Cada Dia nos Alegramos de Continuar Vivendo e já Estarmos Mortos, o enfoque é a inércia dos jovens. Marcelo Gabriel traça um paralelo do comportamento e engajamento político da juventude dos anos 60 e a atual falta de consciência política. Para colocar em prática suas idéias, o coreógrafo e seus bailarianos foram a campo ouvir pessoas entre 15 e 20 anos. "Procuro entender essa geração que está à deriva e vive de um conformismo maquiado de sobriedade. Creio que esses jovens foram cruelmente levados a buscar o sucesso financeiro, uma influência imposta pelos pais, pela família. Essas pessoas não levam a sério a luta pela consciência, por valores e esqueceram os sonhos de mudanças do status quo", diz. Diante desse quadro entra em cena o teatro físico, que traduz em movimentos e em palavras as idéias de Marcelo Gabriel. O texto, Deus Possesso, bastante provocativo, será lido durante o espetáculo com o intuito de levar a platéia à reflexão. "Meu trabalho não depende da palavra, o texto não é fundamental, creio que nesse sentido estou próximo da escola oriental, busco as emoções como essência, elas estão no corpo, as palavras são limitadas." A coreografia bate duramente no que a companhia entende como os efeitos arrasadores da globalização sobre os países do Terceiro Mundo. Em cena, o caos. "Interpreto uma série de personagens, máscaras para desvendar meu próprio personagem, desintegro o ego e comungo com a platéia. O teatro não ocorre no palco, e sim com o público, que está aberto a receber as denúncias, estou ali para dizer o que eles querem ouvir." O caos sugerido pelo coreógrafo trata da influência de países ricos na cultura brasileira. "O imperialismo nos trata como lixo humano, uma relação que se repete há 500 anos", diz. E ainda as falsas promessas, ilusões e falta de liberdade presentes no universo do jovem de hoje. O espetáculo integra o 1.º Circuito Centro da Terra de Artes Cênicas, que tem como objetivo levar ousadia ao palco. O evento conta com patrocínio da Petrobras. Serviço - Marcelo Gabriel e Cia. de Dança Burra. Sexta e sábado, às 21 horas; domingo, às 19 horas. R$ 10 e R$ 20. Teatro do Centro da Terra. Rua Piracuama, 19, São Paulo, tel. 3675-1595. Até 25/8. Para o público na sexta

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.