PUBLICIDADE

No palco, humor ácido de Voltaire

Estréia a peça Cândido, baseada no romance de Voltaire, que retratava os homens como fanáticos, medíocres e carniceiros

Por Agencia Estado
Atualização:

O diretor Paulo Simões parece não temer desafios no momento de escolher um texto para levar à cena. Depois de encenar O Banquete, de Platão, e uma versão de Fausto, de Goethe, protagonizada por Selma Egrei, ele agora enfrenta o humor ácido de Voltaire na peça Cândido, baseada no romance Cândido ou o Otimismo, que estréia nessa sexta no teatro N.Ex.T. Considerado figura símbolo do Iluminismo, mestre do humor, François-Marie Arouet ou Voltaire (1694-1778) foi um defensor radical do racionalismo, do universalismo e da tolerância. Em seus ensaios, romances e poemas - que lhe valeram a prisão na Bastilha e o posterior exílio na Inglaterra - investiu contra a Igreja e a metafísica. Cândido ou o Otimismo conta a trajetória do personagem Cândido (Marcos Daud) que parte em viagem pelo mundo após ter sido expulso do castelo onde foi criado. O motivo da expulsão: ter sido flagrado beijando Cunegundes (Marta Meolla), a filha do senhor. O nome do personagem não foi escolhido aleatoriamente. Ao partir para o mundo, ele crê nas palavras do conselheiro Pangloss (Linneu Dias) que afirma: "Vivermos no melhor dos mundos." Mas todos os acontecimentos nos quais se envolve provam o contrário. Depois de lutar na Guerra dos Trinta Anos, Cândido reencontra o conselheiro na Holanda e toma conhecimento de que o castelo do pai de Cunegundes foi assaltado por búlgaros e sua amada foi violentada, esfaqueada e vendida como escrava na companhia de sua velha criada (também interpretada por Linneu Dias). Na costa lisboeta, o barco em que viaja com Pangloss naufraga e, em Portugal, ambos são condenados pela Inquisição e o conselheiro é enforcado. Cândido reencontra Cunegundes, mas perde-a para o governador de Buenos Aires, o que justifica sua viagem ao Novo Mundo. Depois de passar pela Argentina, Paraguai e pelos Andes, volta finalmente à Europa. Ao acompanhar as peripécias do protagonista por vários países, Voltaire traça um painel da humanidade divertido, porém nada elogioso. Chamado de serpente venenosa, o escritor retrucava retratando os homens como fanáticos, medíocres e carniceiros. Paulo Simões inpirou sua concepção no texto escrito por Ítalo Calvino para o prefácio da edição italiana de Cândido. "Hoje em dia, o que nos encanta em Cândido ou o Otimismo não é o romance filosófico, não é a sátira, não é a formação de uma moral ou visão de mundo - é o ritmo", escreveu Calvino. Ritmo e humor são os principais elementos ressaltados pela concepção, que Simões define como uma "caixa de surpresas". O cenário de Vera Oliveira remete a armários e gavetas. "O N.Ex.T é um teatro pequeno e intimista, que permite trabalhar sobre detalhes, sobre pequenos truques com grande efeito", diz Simões, que tentou captar a velocidade vertiginosa das aventuras ou desventuras do protagonista. "Cândido". Comédia dramática. De Voltaire. Direção Paulo Simões. Duração: 1h30. Amanhã e sábado, às 21 horas; domingo, às 19 horas. R$ 20. N.Ex.T. Rua Rego Freitas, 454, tel. 259-2485. Até 13/8

Comentários

Os comentários são exclusivos para assinantes do Estadão.