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No palco, contos e crônicas de Machado de Assis

Por Agencia Estado
Atualização:

Na obra de Machado de Assis, o teatro aparece como o primo pobre e desconhecido, embora seus textos sempre tenham fascinado atores e diretores. Este é o caso de Moacir Chaves que, saindo de sucessos de crítica e público com Bugiaria e Sermão da Quarta-Feira de Cinzas (monólogo extraído de textos do padre Antônio Vieira), estréia na sexta-feira, no Planetário da Gávea, Viver, baseado em contos e crônicas do bruxo do Cosme Velho. Fugindo ao óbvio, Chaves não encena uma das poucas peças de Machado nem tenta adaptar suas histórias, mas cria cenas em que crônicas e contos são vividas pelos atores. O ponto de partida é o conto Viver, escrito como um diálogo, que ficou com cerca de 20 minutos. O espetáculo se completa com outros textos que têm o tempo como tema e possibilitam um discurso direto", explica o diretor, que pôde ensaiar com seu grupo de seis atores durante quatro meses, graças ao patrocínio da prefeitura do Rio, que lhe entregou também a administração do teatro do Planetário. "Não procurei o texto mais fácil de ser dito, mas o que tivesse mais potência e expressasse mais a questão do tempo, que acaba sendo protagonista do espetáculo." Viver, o conto, narra o encontro do personagem grego Prometeu, que roubou o fogo dos deuses, com o bíblico Ahasverus, condenado a viver indefinidamente, sem pouso, por ter causado a queda de Jesus com a cruz. A esse diálogo, Chaves acrescenta trechos das crônicas O Autor de si Mesmo e Canção de Piratas e dos contos O Sermão do Diabo (contraponto do Sermão da Montanha do Evangelho) e A Igreja do Diabo, além de um trecho de Memórias Póstumas de Brás Cubas, em que ele apresenta uma personagem secundária. Tudo vestido com figurinos e música atemporais e dentro de um cenário com chão de areia e cadeiras amontoadas, para dar tirar qualquer identificação cronológica. Chaves reconhece: a intenção de Machado é simples, embora seu texto não. Aí reside o segredo de montar um espetáculo com base em sua obra. "Mas ele não escreve de uma forma difícil de ser entendida. O que acontece é que as pessoas estão com o vocabulário muito restrito e levar ao palco as palavras de Machado é uma forma de lutar contra isso", ensina o diretor. Ele aprecia êxito de suas últimas montagens, mas não se cobra repeti-lo. "Para nós todos que estamos envolvidos nesse espetáculo, o sucesso já aconteceu. Conseguir levá-lo ao cabo era o mais importante. Não temos preocupação comercial, mas se o público vier e gostar será ótimo."

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