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No Museu Afro Brasil, a diversidade do erudito e do popular

Museu comemora dois anos com a exposição Viva Cultura Viva do Povo Brasileiro

Por Agencia Estado
Atualização:

"Misturo erudito e popular porque somos assim", diz o diretor e curador do Museu Afro Brasil, Emanoel Araújo. Tão clara está essa idéia na grande exposição Viva Cultura Viva do Povo Brasileiro, que se faz por vários do espaços do museu e apresenta um amplo panorama da produção brasileira, tão diversa. Pinturas de Tarsila, Tomie Ohtake, Ivan Serpa vão se unindo no percurso com obras da chamada arte popular, da arte indígena, esculturas de Frans Krajcberg, fotografias de Claudia Andujar, expressões do grafite e trabalhos de jovens artistas. Viva Cultura Viva do Povo Brasileiro é agora realizada para comemorar os dois anos do Museu Afro Brasil, projeto de Emanoel Araújo já de longa data, e que, percalço por percalço, se fincou: no Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega, a instituição é, principalmente, o espaço para não se deixar morrer o passado brasileiro, das raízes africanas de nossa cultura. Os problemas sempre existem, falta de recursos é o principal deles. Como conta Emanoel Araújo, o Museu Afro Brasil, fundado em junho de 2004, se transformou, em abril deste ano, numa Osip (Organização da Sociedade Civil de Interesse Público), e, assim, se mantém com R$ 100 mil por mês. "Mas esses recursos não são suficientes. Agora estamos esperando a renovação do patrocínio da Petrobras, que já terminou", diz Emanoel Araújo. Para as atividades de 2006, o patrocínio da empresa foi de cerca de R$ 2 milhões. No dia 20 de novembro, o Museu Afro Brasil vai apresentar sua nova montagem para sua exposição de vertente histórica: uma reprodução de um navio negreiro, além de vestimentas e objetos que contam passagens da história dos negros e suas influências em nossa cultura. Por todo o espaço do museu no pavilhão no Parque do Ibirapuera (o prédio é cedido pela prefeitura de São Paulo em regime de comodato) há tanto as mostras permanentes quanto temporárias. Agora, a exposição Viva Cultura Viva do Povo Brasileiro faz aumentar a quantidade de obras que o visitante poderá ver porque ela é formada por quatro mostras: Um Olhar Sobre a Arte Brasileira; O Imaginário do Povo Brasileiro; Território Ocupado; e Os Pontos de Cultura (para apresentar as atividades do projeto do Ministério da Cultura). Conversa entre obras Já na entrada do museu o percurso começa com uma espécie de outdoor com o detalhe do quadro Operários (1933), de Tarsila do Amaral. Na primeira mostra, Um Olhar Sobre a Arte Brasileira, Emanoel Araújo diz que quis reunir obras de artistas importantes para o percurso da arte nacional. "Como esse é um país que se diz jovem, sempre se esquece do passado recente", afirma. Esse passado recente compreende, na verdade, obras (majoritariamente pinturas) realizadas entre as décadas de 1940 e 1960 - mas o período não se encerra nesses anos, se estende até a atualidade. A mostra começa com pinturas de fases específicas de artistas como Carlos Scliar, Yolanda Mohalyi, Arcangelo Ianelli, Antonio Maluf e Vergara. Há, também, obras de "artistas que pouco se vê em São Paulo", diz Emanoel, entre eles, Henrique Oswald (neto do compositor Henrique Oswald); Clóvis Graciano e Nonê Andrade (filho do escritor Oswald de Andrade) - as pinturas dele estão em diálogo com uma segunda versão feita na década de 1940 por Tarsila de sua célebre pintura A Negra (a original é de 1923). As relações entre todas as obras vão se fazendo por aproximações formais e metafóricas. Depois, em O Imaginário do Povo Brasileiro, segue-se a mesma idéia: constrói-se uma grande conversa entre obras da chamada arte popular ou arte do povo brasileiro (muitas de anônimos) com pinturas de Francisco Brennand e esculturas de Krajcberg - um dos destaques são as enormes peças de madeira de Ramiro Bernabó. Chama a atenção nesse segmento o forte caráter cenográfico - já uma marca do museu. "Uma exposição tem que ser sedutora", defende o curador. Tudo misturado nessa cenografia é, segundo ele, a maneira de deixar claro que o Brasil é assim, "sem limite": com uma produção criativa, que mistura erudito e popular. "Não estamos na hegemonia do primeiro mundo. Mas, se quisermos entrar nela, tem de ser pela porta da diversidade." Para completar, em Território Ocupado é como se o espaço do museu "se transformasse no espaço de rua", com criações da expressão do grafite e pintura de Kboco, Speto, Nunca, Ciro, Melim e Onesto - e no mesmo andar, ainda se seguem obras de outros contemporâneos, alguns ainda desconhecidos. Viva Cultura Viva do Povo Brasileiro. Museu Afro Brasil. Pavilhão Padre Manoel da Nóbrega. Avenida Pedro Álvares Cabral, s/nº, Pq. do Ibirapuera, portão 10, (11) 5579-0593. 3.ª a dom., 10 h/ 17 h. Grátis. Até 21/3

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