No mercado, mais e melhores títulos

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Por Raquel Cozer
Atualização:

O boom de séries como Crepúsculo e Percy Jackson colocou o filão literário juvenil entre os mais visados desta década, o que ajudou a encobrir, para o público em geral, a percepção de outro crescimento significativo no setor editorial do País - o da literatura para crianças. Uma análise das últimas quatro pesquisas anuais de Produção e Vendas do Setor Editorial Brasileiro, conduzidas pela Fipe (Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas), dá essa dimensão. Em 2006, editoras brasileiras colocaram no mercado 321 milhões de exemplares de livros, número que passou para 386 milhões em 2009 - aumento de cerca de 20%. A literatura juvenil foi a que mais engrossou no período (256%), seguida da infantil (124%). Ainda assim, a produção de obras literárias para crianças (28,7 milhões de exemplares em 2009) permanece à frente das obras para jovens (26,8 milhões). Hoje, só livros didáticos e religiosos são mais produzidos que os de literatura infantil no País, mas o fenômeno é recente. Até o ano retrasado, o terceiro lugar era da literatura adulta, cuja produção teve queda de 6% desde 2006.Para quem acompanha de perto esse cenário, os números não chegam a surpreender. Historicamente dominado por empresas que também editam didáticos, como Ática e Moderna, o mercado de literatura infantil ganhou variedade e qualidade nas últimas décadas, quando passaram a se dedicar à área editoras já estabelecidas com catálogo adulto, como Martins Fontes (nos anos 80), Companhia das Letras (nos 90) e Cosac Naify (anos 2000), e chegaram outras especializadas nesse público, como Brinque-Book e a espanhola SM. A grande virada aconteceu depois que, em 1997, o Ministério da Cultura criou o Programa Nacional de Biblioteca na Escola (PNBE), pelo qual o governo passou a adquirir enormes quantidades de títulos literários. Os critérios foram (e ainda são) muito questionados. A princípio, pouquíssimas editoras emplacaram dezenas de títulos. Com o tempo, restringiu-se o número de obras por editora, mas então algumas das maiores passaram a concorrer com títulos espalhados por diferentes registros de empresa. Ainda assim, a simples possibilidade de concorrer a uma das generosas tiragens da compra federal estimulou os grupos a editarem mais e melhores livros. "O mercado infantil ainda tem vendas baixas. A maior parte sai com 3.000 cópias e demora anos para vender", diz Júlia Schwarcz, editora da Companhia das Letrinhas. "Mas, se o governo seleciona, a compra é de 20 mil, 40 mil exemplares. Com isso, os selos infantis ficaram importantes dentro das editoras." A Cosac Naify ilustra bem esse efeito. Dos cerca de 750 títulos de seu catálogo, um terço é de literatura infantil, mas o faturamento desse nicho já corresponde a 40% do total anual da empresa, tornando-se seu carro-chefe. A editora teve ainda papel central na evolução da qualidade gráfica dos títulos editados, sendo inclusive bem-sucedida em duas áreas nas quais as casas brasileiras ainda são tímidas, os prêmios internacionais e as vendas de títulos infantis para o exterior - só neste ano, comercializou três obras.A produção maior alimentou também o setor livreiro. Lojas voltadas para o público infantil, como as paulistanas Novesete e Casa de Livros, ganharam destaque e passaram a competir com seções cada vez maiores nas megastores. "Você precisa de mais espaço para armazenar a produção. A venda justifica isso", diz Frederico Indiani, diretor comercial da Saraiva. Na Cultura, a comercialização de infantis cresceu 25% em relação aos oito primeiros meses de 2009, enquanto as vendas gerais tiveram aumento de 15%.

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