
21 de setembro de 2010 | 00h00
Ao completar dois anos de falência este mês, o Lehman Brothers, que foi um dos maiores bancos de investimento do mundo, se destaca em outro mercado, o de arte, no qual parece ter tido mais faro do que para as subprimes que o quebraram. Para pagar parte da dívida da instituição com credores, perto de 900 obras de arte e outros objetos que decoraram os escritórios dela nos Estados Unidos e na Europa vão à venda em três casas de leilões.
No dia 25, a Sotheby"s de Nova York leiloa 147 lotes com cerca de 400 peças da coleção de obras do pós-guerra e contemporâneas que o Lehman possuía nos EUA, avaliadas entre US$ 10 milhões e US$ 13 milhões. No dia 29, a Christie1s de Londres oferece 300 lotes com itens vindos das instalações do banco na Europa. Ali há desde pinturas de Lucian Freud e Gary Hume, coleções de gravuras, caixas, tinteiros e livros antigos, a pequenos objetos como a placa que celebrou a inauguração da sede europeia do banco em 2004, pelo então ministro das Finanças da Inglaterra Tony Brown.
A estimativa é de se levantar com eles no mínimo dois milhões de libras (cerca de US$ 3 milhões). Outro leilão de arte contemporânea do Lehman vai ser feito em 7 de novembro pela Freeman"s, em Filadélfia (EUA), que espera captar entre US$ 250 mil e US$ 300 mil.
Bavária. O Lehman Brothers tinha uma longa tradição como colecionador de arte, iniciada em 1911 com Philip Lehman, filho de um dos irmãos imigrantes da Bavária que o fundaram em fins do século 19. A coleção enriqueceu na mesma proporção que o banco ao longo dos 60 anos em que ele foi dirigido por Robert Lehman, filho de Philip, que deixou cerca de 3 mil obras de arte para o Metropolitan Museum, de Nova York, onde uma ala tem o nome dele.
Em 2003, o Lehman adquiriu a corretora Neuberger Berman, fundada por Roy Neuberger, também conhecido por sua paixão pela arte, e as duas instituições fundiram suas coleções. Entre as peças que serão leiloadas, a arte contemporânea brasileira está representada por trabalhos de Sebastião Salgado,Vik Muniz e Valeska Soares. Da coleção da Neuberger (que ressurgiu como companhia independente no ano passado) vem a obra com maior estimativa dos três leilões. É We"ve Got Style (The Vessel Collection - Blue, de 1993, um armário azul com objetos de cerâmica coloridos, que faz parte de uma série de três precursores dos armários de remédios de Damien Hirst e está avaliado pela Sotheby"s entre US$ 800 mil e US$1,2 milhão.
Como o trabalho de Hirst, muitas obras contemporâneas do banco que serão leiloadas foram adquiridas no início da década de 90. Algumas chegaram à coleção no mesmo ano em que foram produzidas ou no ano seguinte e agora figuram entre as que têm estimativas de preço mais altas. "É como se eles tivessem uma bola de cristal", diz Gabriela Palmieri, especialista do setor na Sotheby"s, comentando a aquisição de trabalhos de artistas como John Currin, Mark Grotjahn e Julie Mehretu. "Eles não eram tão conhecidos nem tinham a celebridade que têm hoje."
QUEM DÁ MAIS?
A data dos leilões foi escolhida para coincidir com o aniversário da falência do Lehman a fim de reforçar o marketing das vendas. Os credores reivindicam cerca de US$ 870 bilhões em dívidas do banco, que contesta o valor.
UNTITLED I
(US$ 600 mil/US$ 800 mil).
De Julie Mehretu.
Foi criado em 2001 e chegou à coleção no mesmo ano.
200 YARDS
(The Apple Tree, after Atget from Pictures of Thread series) Do fotógrafo brasileiro Vik Muniz e segunda impressão de uma série de cinco feita em 1998 (US$ 6 mil/US$ 8 mil), foi comprada em 1999.
SHAKESPEARE ACTRESS
(US$ 500 mil/US$700 mil)
De John Currin
Foi produzido e vendido em 1991.
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