09 de dezembro de 2018 | 02h00
Saiu o segundo volume da autobiografia não autorizada do Jô Soares. Leitura obrigatória para o verão – ou para o longo inverno que também começará no dia 1.° de janeiro, segundo os bolsocéticos. Me lembrei da primeira vez em que fui no programa do Jô, ainda no SBT. Quer dizer, na pré-história. Eram três os convidados: Luis Carlos Prestes, Lula – e eu! Até hoje desconfio que queriam fazer um programa com três Luíses e só me convidaram porque eu era o Luís mais à mão.
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Sentei entre os dois Luíses famosos, esperando para ser chamado pelo Jô. E fui eu que puxei conversa, acredite ou não. Comentei com Lula que tínhamos um amigo em comum, o Marco Aurélio Garcia.
– Grande figura – disse o Lula.
E mais não disse.
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Virei para o outro lado e comentei com Prestes que um companheiro dele na Coluna, Nestor Verissimo, era tio do meu pai.
– Grande figura – disse o Prestes.
E, como o Lula, mais não disse. Como se tivessem ensaiado. Desisti. Eles obviamente não falavam com qualquer Luís.
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O Jô foi almoçar na casa em Porto Alegre que é nossa desde 1942. Levei-o para um tour da casa e o Jô perguntou quantos quartos ela tinha. E agora? Quantos quartos tinha a casa que o pai comprara pela Caixa com 15 anos para pagar, em que eu tinha passado minha infância e na qual um aumento também feito anos antes agora só prejudicava meu raciocínio? Quantos quartos? Só havia um jeito de saber. Gritei:
– Lúcia!
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O Jô contava isso todas as vezes em que eu ia ao seu programa. Uma vez, decidi me preparar. Quando ele terminou a história, anunciei que antes de sair de casa eu contara os quartos.
– Quantos são? – perguntou o Jô.
– Esqueci.
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