Niemeyer projeta pavilhão em Londres e museu na Itália

Aos 95 anos Oscar Niemeyer cria projeto inovador na sua trajetória: um pavilhão desmontável para a Serpentine Gallery, no Hyde Park de Londres e ainda um museu em Ravello, na Itália, além do museu e da biblioteca de Brasília

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Por Agencia Estado
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Enquanto a prefeitura do Rio chama profissionais franceses para construir grandes obras e mudar a cara da cidade, o mais carioca de todos os arquitetos e o maior nome do Brasil nessa área, Oscar Niemeyer, está cheio de encomendas na Europa. Aos 95 anos, completados há exatamente dois meses, ele não se furta ao trabalho. Seus mais novos projetos são um pavilhão desmontável para a Serpentine Gallery, no Hyde Park de Londres, e um museu na cidade italiana de Ravello. No Brasil, ele acaba de entregar ao governo do Distrito Federal os desenhos do museu e da biblioteca municipais de Brasília, que completarão sua obra-prima iniciada há mais de 40 anos. Afável e acessível, Niemeyer só se recusa a falar sobre os projetos do Guggenheim e da Cidade da Música, explicando que não se envolve nessas histórias. Nem da evidente presença de seu estilo no projeto da Cidade da Música, apresentado pelo francês Christian de Portzamparc na semana passada. Niemeyer não fala do trabalho alheio, só do próprio. O projeto para o Hyde Park, por exemplo, é sua primeira obra com material pré-fabricado, mas não é sua estréia na terra dos Beatles. Ele já projetou prédios para a Universidade de Oxford. "Será um salão de descanso e consegui me manter dentro do espírito da minha obra com o material pré-moldado", explicou ele. "Vai ficar lá durante o verão europeu e depois será levado para outros lugares, porque é desmontável. Isso é uma novidade para mim." O museu de Ravello terá também um auditório. "Quis fazer algo diferente do que já existia e acho que consegui", conta ele, lembrando que aqui no Brasil inaugurou no ano passado o Museu de Curitiba e está refazendo o projeto do Museu e da Biblioteca Municipais de Brasília. "Eles estavam previstos desde o início, mas redesenhei tudo quando o Roriz me disse que agora, finalmente, ia construí-los", conta Niemeyer. "Hoje as necessidades são outras e o projeto tinha de ser diferente daquele primeiro. Vai ficar próximo à catedral e assim, finalmente, a capital vai ganhar o seu setor cultural." Brasília colocou a arquitetura brasileira no mundo, mas Niemeyer nem a considera sua obra mais revolucionária. Para ele a Pampulha, em Belo Horizonte, com sua igreja e o antigo cassino (hoje uma clube chique) debruçados sobre uma represa, é o começo de tudo. "Sem a Pampulha, também construída por Juscelino Kubitscheck, não teria havido Brasília", costuma dizer. Ele lembra que, ainda nos anos 40, se encantou com a idéia de unir várias artes num mesmo projeto. "Foi muito interessante a idéia renascentista de chamar outros artistas para colaborar na obra. Na Pampulha, foi Portinari quem fez os painéis e azulejos." Essa idéia se repetirá no Caminho Niemeyer, que a prefeitura de Niterói prepara na orla da antiga capital do Estado do Rio. "As paredes serão de concreto branco à disposição de pintores, escultores e outros artistas que vão preencher os espaços, como nos palácios renascentistas. Não basta fazer só arquitetura, é preciso uma convivência com todo tipo de gente, uma atividade paralela", ensina ele. No seu caso houve a atividade política que o levou ao exílio durante a ditadura militar e o interesse pela cosmologia. "Basta olhar o céu para ver como o homem é pequeno. O céu nos humilha e nos mostra que a vida é um sopro, um rápido minuto." Niemeyer só não vai participar é das homenagens a ele no próximo carnaval. O sambódromo, obra sua que mudou os desfiles das escolas de samba e foi imitado em todo o País, está chegando a seu 20.º carnaval e ele será enredo da Unidos de Vila Isabel, que desfila no dia 1.º, no Grupo de Acesso 1, e para a qual ele projetou a sede, na verdade um centro cultural com quadra de ensaios (cujo teto se abre para noites estreladas), auditório, salas de exposições e de aulas. "É muito bom ser homenageado pelo povo, o Martinho da Vila, presidente da escola é muito gentil, mas não vai dar para desfilar nem para ir aos ensaios", lamenta ele. Seria sua segunda passagem pelo sambódromo, onde Niemeyer só pisou na inauguração, no dia 2 de março de 1984. "Não sou de carnaval. É uma festa do povo e hoje eu pouco saio de casa."

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