Nelson Motta inventa o "noir" baiano

Compositor, jornalista, produtor cultural, produtor de discos, Nelson Motta autografa na terça O Canto da Sereia - Um Noir Baiano, no Ritz

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Por Agencia Estado
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Problema comum à quase totalidade dos romances policiais brasileiros é a tentativa de fazer o Rio (ou São Paulo, Recife, Porto Alegre, Belo Horizonte, para ficar nas paisagens mais constantes) parecer Los Angeles - ou Chicago, Nova York, Londres. Se outro mérito não tivesse, teria Nelson Motta o de haver criado um exemplo raro de brasileiríssimo romance policial. Trata-se de O Canto da Sereia - Um Noir Baiano, que o autor autografa na terça-feira, entre as 20 e as 23 horas, no Ritz. Compositor, jornalista, produtor cultural, produtor de discos, Nelson Motta (um falso carioca, como diz, pois, criado no Rio, nasceu em São Paulo), é amante da literatura policial. Conhece como pouca gente os meandros e a malandragem da indústria cultural - já inventou artistas (As Frenéticas) ou casas de espetáculo (Dancing Days), produziu Elis Regina e guiou os primeiros passos de Marisa Monte. Seu livro junta o amor pelo noir e a experiência de agente cultural. O enredo é um achado. Sereia é a cantora-ídolo da Bahia, a sensação do momento, a estrela da vez; é a menina pobre que virou princesa e comanda a grande festa em que a Bahia parece eternamente estar. Na terça-feira gorda, Sereia comanda o carnaval, encarapitada no alto do trio elétrico. Chove. Um raio, um trovão Sereia cai, morta por um tiro que não foi percebido. Calam-se os tambores e se dá o impensável: pára o carnaval da Bahia. Quem conduz a narrativa é Augustão, um dublê de detetive segurança e jornalista, com informantes na polícia (por causa do jornal), trânsito nos terreiros de umbanda, um sujeito não muito honesto que adora cerveja, rede, maconha, mulheres. Sereia era uma loirinha talentosa que foi transformada em loiraça explosiva pelas artes do marqueteiro Tuta Tavares, o produtor artístico Paulinho de Jesus e a empresária Mara Moreira. Tuta é um pouco Nizan Guanaes e Duda Mendonça; Mara Moreira faz lembrar Marlene Mattos, ex-empresária da Xuxa; Paulinho de Jesus parece mesmo é com o autor do livro. Não poderia faltar, entre os personagens principais, uma mãe de santo, ligada à moça assassinada, e um governador da velha escola populista - o ACM da ficção chama-se Juracy Bandeira, mais conhecido como Dr. Jotabê. Cujo marqueteiro é o mesmo da Sereia. Que desistiu de fazer a campanha dele. Que não era tão boa moça quanto parecia, vai-se sabendo aos poucos, na narrativa saborosa do romancista estreante. Serviço - "O Canto da Sereia". De Nelson Motta. Editora Objetiva. 260 páginas. R$ 32,90. Terça, das 20 às 23 horas. Ritz. Rua Jerônimo da Veiga, 141, em São Paulo, tel. (11) 3079-0625.

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