Nelson Felix expõe e lança livro

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Por Agencia Estado
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Nelson Felix afirma que desde criança sabia que seria um artista. O carioca começou com o desenho já que aos 3, 4 anos, só desenhava. "Nessa idade, a única coisa que a gente pode fazer é desenhar." Depois, cursou arquitetura: "é que as escolas de arte do Rio eram muito ruins, bem ruins. Vários artistas da minha época fizeram arquitetura." E, por fim, chegou à escultura, mistura das duas experiências anteriores. O que se pode ver tanto no livro Nelson Felix, que o artista lança nesta terça-feira, às 19h30, no Sesc Belenzinho, quanto em seu projeto de intervenção idealizado para o Artecidadezonaleste, que será aberto ao público no dia 16, é justamente essa sua trajetória e pensamento artísticos. O livro Nelson Felix é a segunda publicação realizada sobre o artista. Organizado por ele e pela professora-doutora Glória Ferreira, a obra teoriza a respeito do trabalho e do processo de criação de Felix por meio de dez projetos selecionados para serem analisados. O livro, edição bilíngüe (português e inglês), reúne três textos, respectivamente de Glória Ferreira, da crítica Sônia Salzstein e do curador do Arte/Cidade, Nelson Brissac, além de fotografias de obras e making offs e desenhos do artista. O projeto surgiu porque, como explica Felix, seu trabalho sempre foi mais conhecido no meio dos artistas e somente há uns seis anos o artista teve uma maior projeção entre o público, mesmo depois de ser premiado duas vezes pela Associação Paulista de Críticos de Artes (1989 e 1991) e de ter recebido o prêmio Bravo-Brasil, em 1996, por seu trabalho para a 23.ª Bienal Internacional de São Paulo. A primeira publicação sobre sua arte, uma monografia de autoria do crítico Rodrigo Naves, foi lançada em 1998, pela editora Cosac & Naify. Mesmo gostando muito do título, Felix sentia que alguns de seus pensamentos ainda deviam ser tratados. "Queria fazer um novo livro sobre alguns trabalhos específicos", diz. Cada um dos autores do livro Nelson Felix, editado pela Casa da Palavra, escolheu os trabalhos dos quais fariam suas análises. Glória Ferreira escreve, basicamente, sobre dois projetos: Grande Budha, que foi realizado entre 1985 e 2000, e Mesa, de 1997. O primeiro, localizado no meio de uma floresta no Acre, é composto por seis garras de latão fixadas ao redor de uma árvore. Lidando com a questão do tempo, a idéia desse trabalho é que as garras, com o passar dos anos, se perderão na árvore. "ê a pulverização daquilo que a gente tem" explica Felix. Mesa, localizado no Rio Grande do Sul, também trata da mesma questão, uma vez que uma chapa de aço foi colocada sobre tocos de eucalipto e, ao lado, foram plantadas mudas de figueiras. Com o tempo, "o eucalipto apodrecerá, as árvores sustentarão e deformarão o plano da chapa", como descreve a legenda do livro. Já a crítica Sônia Salzstein não elege trabalhos específicos, mas cita-os durante sua análise. "Ela fala da loucura do trabalho e de vez em quando pinça um projeto", diz Felix. Um dos temas abordados pela crítica é a interação entre tecnologia e natureza. Por fim, Nelson Brissac escolheu quatro trabalhos para mostrar sua visão. "Os trabalhos são mostrados nas fotos, nos desenhos, nas legendas, e os textos falam sobre o contexto. Fico contente por essa edição ser um livro e não um catálogo", afirma o artista que nunca fez um catálogo para suas exposições. Arte/Cidade - Da arquitetura, Nelson Felix diz ter absorvido seu processo de concentração. "A arquitetura me ensinou a pensar soluções para um problema", analisa o artista. Seu projeto para esta edição do Arte/Cidade é, principalmente, essa ligação com a arquitetura. Sua idéia é atravessar um ferro em um dos pilares do 2.º andar da Torre Leste do Belenzinho. "Esse trabalho do pilar é como se fosse o ´Grande Budha´ resolvido em arquitetura já que em vez de serem garras entrando em uma árvore, será um ferro entrando no pilar do prédio. Só que o pilar é a medula, o centro nervoso da Torre, um lugar crucial", descreve. Para realizar essa idéia, Felix conta com a "cooperação" de cerca de 50 profissionais entre arquitetos, engenheiros e operários, entre eles, o engenheiro Ary Perez. ê que para atravessar o ferro no pilar, é preciso construir uma estrutura provisória de cerca de 12 toneladas que funcionará como quatro pilares que apoiarão o prédio enquanto o pilar central for cortado. Segundo Felix, depois de pronta, sua intervenção não será somente o ferro que passará pelo pilar e sim uma obra que mexeu com toda a estrutura de sua construção. "O que vai ficar de novo no prédio são, literalmente, 600 quilos, que é o peso da peça de ferro. Mas a escultura é mesmo o prédio inteiro já que mexemos em sua estabilidade. A sensação de espaço que as pessoas vão ter é outra. Esse trabalho faz você se conscientizar sobre o espaço em que está", afirma. Nesta terça-feira, durante o lançamento, o artista estará apresentando sua obra, também presente no livro que será vendido por R$ 70 em todo o País. Serviço - Nelson Felix. Textos de Glória Ferreira, Nelson Brissac e Sonia Salzstein. Editora Casa da Palavra. 176 páginas. R$ 70.

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