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Negócios da moda ou leilão de egos?

Venda de marcas afasta seus criadores

Por Adriana Del Ré
Atualização:

As recentes baixas de Amir Slama e Tufi Duek da direção criativa das prestigiadas Rosa Chá e Forum, Forum Tufi Duek, Tufi Duek e Triton reacenderam uma antiga discussão no meio: "Existe vida para a grife após a saída de seu criador?" Depois que o cenário da moda brasileira passou a reverberar prática já comum no exterior - a venda das grifes para os grandes grupos - com a intenção de profissionalizar o setor, esse tipo de questionamento se tornou recorrente. As empresas AMC Têxtil, InBrands e Marisol são as responsáveis por delinear a nova cara desse mercado. Hoje, a tríade segue o mesmo caminho de grupos gringos como o francês LVMH, dono de marcas como Vuitton e Dior.

 

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Um caminho, ao que tudo indica, sem volta - que ainda gera dúvidas. Há quem acredite que o novo funcionamento diz muito mais sobre egos do que business, como Fause Haten. "Estou muito mal impressionado com tudo o que está acontecendo, com a saída do Tufi (Duek) e do Amir (Slama) de suas grifes, com o que aconteceu comigo. Acho que virou uma coisa egoica. O grupo diz ‘sou poderoso, te compro, te seduzo pelo dinheiro, e depois que te tenho, faço o que quiser com você e você sai e eu comando de vez’. Para dar certo, o foco deveria ser a moda e não é", interpreta Fause. Em passado bem recente, ele vendeu sua grife para o já extinto grupo I’M e não teve sorte. Hoje, está à frente da FH.

 

Alexandre Herchcovitch quase entrou na mesma barca furada de Fause, mas conseguiu desfazer a venda de suas crias para o mesmo I’M. Mais tarde, retomou as negociações com a InBrands e fechou com o grupo, no qual por ora, está muito bem, obrigado.

 

Detentora também da Ellus, 2nd Floor e Isabela Capeto, a InBrands parece interessada em manter os diretores criativos. "Temos um modelo associativo e precisamos de sócios com comprometimento para fazer a marca prosperar. Ela precisa ter identidade. Por isso, é importante que os sócios fundadores continuem no negócio", diz o CEO Gabriel Felzenszwalb. Para ele, a holding vê a moda assim: um negócio rentável, que visa ao lucro. Só sobreviverão as marcas gerenciadas.

 

 

O que não aconteceu com Rosa Chá, que pertence ao grupo Marisol e, em maio, anunciou o desligamento do criador da grife, Amir Slama. Em entrevistas, o estilista atribuiu sua saída à busca de novos desafios. Disse que percebeu que havia feito uma venda e não uma junção. Segundo o presidente da Marisol, Giuliano Donini, "a soma de questões pessoais e profissionais levou ao entendimento de que Amir deveria seguir outro caminho". "A Rosa Chá é autoral, por isso, com a saída de Amir, precisávamos de um outro autor. Por isso, a escolha de Herchcovitch."

 

Maior gestora de moda do Brasil, a AMC Têxtil foi outra que causou frisson ao comprar marcas como Sommer e todas de Tufi Duek, para, tempos depois, descartar seus criadores. Há quem diga que nunca mais se ouviu falar da grife de Marcelo Sommer. O consultor Edson D’Aguano, diretor-presidente da Consultive, que assessorou as transações entre estilistas e o grupo, desmente os boatos. "A Sommer não desfilou na SPFW, mas a marca aumentou 10 vezes em vendas em relação ao tempo que estava no comando de Marcelo." Para Sommer, existia uma proposta de crescimento, mas "houve descaracterização da grife". "Gostaria de voltar à direção da marca." Atualmente, comanda Do Estilista, que não entra na programação oficial desta SPFW, mas exibe a nova coleção, no sábado ou domingo, às 16h30, atrás da Bienal. Sommer mostra que para o criador, ao menos, existe vida longe de sua marca.

 

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Colaborou Mariana Abreu Sodré

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