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Natal: confira as novidades do universo das HQs

Gibis, que deixaram de lado seu caráter fedelho para virar objeto de desejo sofisticado, são opções bacanas de presentes para um público variado

Por Agencia Estado
Atualização:

Fim de ano, mês de Natal e você não tem a mais pálida idéia do que comprar de presente para uma dezena de pessoas. Ir para 25 de Março ou para maioria dos shoppings é coisa de espartano. Se a sua lista é grande, vai uma sugestão que pega muita gente desprevenida e por isso mesmo vira bom presente: gibi. Gibi deixou de lado seu caráter fedelho para virar objeto de desejo sofisticado. Não que seja exclusivo de público adulto. Quadrinhos, especialmente nos últimos anos, ficaram muito mais diversificados e mais do que freqüentemente arrastam um pé pro lado da arte. Investimento garantido, segue aqui uma lista orientada segundo interesses e preços variados. Mulherada Para presentear sogras, esposas e namoradas: procure um sujeito chamado Neil Gaiman. Autor inglês de quadrinhos e livros de ficção agrada a mais arredia das platéias. Tiro certeiro, algumas obras de Gaiman são de dobrar o coração de exigentes donzelas de qualquer idade. Para aquelas mais afeitas à arte uma boa sugestão é Dream Hunters - Os Caçadores de Sonhos (Conrad, R$ 54), escrita pelo autor e desenhada pelo artista japonês Yoshitaka Amano. Conto ricamente ilustrado, a história é sobre um monge apaixonado por uma raposa. Em seus sonhos terão a ajuda do rei do sonhar, o consagrado personagem de quadrinhos Sandman. Outra boa pedida de Gaiman é Stardust (Conrad, R$ 55). O livro ilustrado narra o conto do jovem Tristan Torn, habitante da cidade fictícia de Wall, fronteira com o reino das fadas. Em busca de uma estrela cadente para presentear a inconveniente namorada vai descobrir sua própria origem entre seres mágicos vizinhos à sua cidade. Especialmente bom presente, pois o livro chegará às telas do cinema em março de 2007 com Robert DeNiro, Claire Daines e Michelle Pfeiffer. Outros livros de Neil Gaiman que são de amplo agrado são Deuses Americanos (Conrad, R$ 45), Os Filhos de Anansi (Conrad, R$ 55) e o recém-lançado Os Lobos Dentro das Paredes (Rocco, R$ 39,50). ´Sérios´ Para presentear chefes, nacionalistas convictos ou figuras que exigem algum acatamento, escolha quadrinhos mais ?sérios? ou que vão para o lado da irreverência inteligente. Se a garrafa de whisky ou vinho está cara, mostre sua apreciação (sincera ou não) ao talento do patrão com um presente de bom gosto. 10 Pãezinhos: Mesa para Dois (Devir, R$ 15) dos gêmeos Gabriel Ba e Fábio Moon, conta a história de um escritor que, na sua relação com uma garçonete, encontra a inspiração para suas obras. Quando inspiração pouca é bobagem, a referência para criação do protagonista é outro escritor, nada menos que Monteiro Lobato. Outro prato cheio para sujeitos finos é O Complô, de Will Eisner (Companhia das Letras, R$ 36). Tremenda aula de história, O Complô conta de maneira quase didática a origem dos infames Protocolos dos Sábios do Sião, obra forjada no século 19 e que foi usada pelos nazistas como ?prova cabal? do plano de dominação mundial arquitetada pelos judeus. Intrigante e fascinante, a HQ foi a última criação em vida de Will Eisner, entre outras coisas, criador do herói Spirit, verdadeiro modelo de como deve ser contada uma história em quadrinhos. Se o tino histórico do sujeito que você deseja presentear for tão afiado quanto um frasco de palmito, talvez uma melhor opção seja Lula Lá - A (O) missão (Devir, R$ 49) e Avenida Brasil - Se Meu Rolls-Royce Falasse (Devir, R$ 46), dos irmãos Paulo e Chico Caruso, retratos (em caricaturas) da política brasileira recente. Para quem não estava no planeta nos últimos anos, os dois livros são uma boa dica para entender as mazelas no Brasil do malfadado governo Lula. Amigos Para presentear chapas de boteco, velhos amigos ou outras testemunhas de fracassos e sucessos: mire para dois lados, ficção científica de qualidade e erotismo histórico. Este ano foi particularmente rico nos dois sentidos. Lançamentos da Conrad, Opera Gráfica e Devir abriram um cardápio de fazer inveja a qualquer baiúca. Na soleira das intenções de compra vai Y - O Último Homem (Opera Gráfica, R$ 56), delirante ficção de Brian K. Vaughan, Pia Guerra e José Marzán Jr.. Nela, todos os seres nascidos com gene Y morrem subitamente, com exceção de dois: o artista de rua Yorick e seu chimpanzé de estimação Ampulheta. O que poderia ser o mais delicioso sonho adolescente onde só existem mulheres caminhando na face da terra, na HQ se transforma numa desalentadora perspectiva do futuro. O último dos homens tem que fugir de violentas seitas femininas convencidas de que a sobrevivência do rapaz é uma ameaça à nova condição da raça dominante. Authority: Sob Nova Direção (Devir, R$ 43), Autority: Sem Perdão (Devir, R$ 45) e Jenny Sparks: A História Secreta do Authority (Devir, R$ 35) do escritor Mark Millar é diversão garantida para quem se enche de ver a Liga da Justiça se contendo na hora de sentar o braço nos vilões. Liderados pela loira Jenny Sparks, o grupo Authority vai aonde nenhum herói da Marvel e DC jamais foi: desceu o sarrafo em ditadores pretensiosos, vilões maquiavélicos e estupradores alienígenas. Tudo isso dando pito num melindrado governo americano e na ONU. Além disso, os heróis de Authority não têm aquele caráter ?quadrado-certinho? quase natural aos heróis de HQ: dois deles são homossexuais, uma outra não usa qualquer roupa (apenas uma película de metal líquido que reveste sua pele), e sua líder Jenny Sparks, ?a gata do século?, foi, entre outras coisas, amiga próxima de Adolf Hitler quando ele era um maltrapilho pintor nas ruas de Viena em 1913. Se o negócio for ficção científica no sentido mais estrito do termo uma excelente escolha é Incal (Devir, vol. 1 - R$ 42 e vol. 2 - R$ 45) escrita por Alexandro Jodorowski e desenhada pelo lendário artista francês Moebius. Nas duas obras, um desavisado detetive entra em contato com o Incal, artefato místico que confere poderes inimagináveis ao seu portador. De valor cósmico, o objeto é procurado por facções políticas, seitas religiosas, mercenários do submundo e entre outras figuras, os próprios deuses. Tudo em um ambiente pra lá de futurista, entre a mais avançada utopia e o caos mais instalado, bem ao estilo de Moebius. Milo Manara Mas, se a amizade anda meio devagar, para resgatar a estima do seu chapa o nome é Milo Manara. Neste ano foram publicadas no Brasil várias obras do desenhista italiano. Mas antes que as onças saiam pulando da carteira é bom lembrar de uma coisa: Manara desenha quadrinhos eróticos. Sim, pobre adolescente, coisa pra gente grande. Borgia vol. 1 - Sangue para o Papa (Conrad, R$ 39) e Borgia vol. 2 - O Poder e o Incesto (Conrad, R$ 39) desenhadas por Manara e também escritas por Alexandro Jodorowski é um cuidadoso retrato sobre a vida de Rodrigo Borgia, o papa Alexandre VI (1492-1503). Se a imagem associada a um papa é da santidade, Manara mostra com detalhes ?carnais? quão divertida, monstruosa, violenta e mesmo romântica foi a vida de Bórgia e seus filhos. A Metamorfose de Lucius (Pixel, R$ 25,90) segue a mesma direção. Uma versão da obra O Asno de Ouro, do filósofo Lucius Apuleio (125 e 184 d.C), A Metamorfose conta a história de Lucius, cidadão romano que se vê transformado em asno e que por sua nova condição testemunha diversos episódios que atestam a degradação da sociedade romana no final do século 2. Claro, para Manara, a melhor maneira de demonstrar isso é através do sexo. Tudo de bom tom, sem resvalar na pornografia, que fique claro. Infantil Para presentear as crianças de 8 a 12 anos: se elas não tiram o olho da TV ou do computado,r sempre procurando a nova versão de algum ?mon? (Digimon, Pokemon ou similares) há uma vasta margem de possibilidades. Sugere-se aqui o refinamento do que há de melhor: Nausicaä do Vale do Vento (Conrad, Vols. 1 e 2 - R$ 29,90 cada). Obra-prima de Hayao Miyazaki, o mangá (quadrinho japonês) conta a história da princesa Nausicaä tentando salvar seu povoado em um futuro vítima da ambição industrial do passado. Onde o ar é envenenado, criaturas mutantes gigantescas atacam todo ser humano e a taxa de natalidade é baixíssima, Nausicaä é a única disposta a entender o mundo em que vive. De maneira delicada Miyazaki monta um enredo intrincado como é natural aos desenhos japoneses, e cheio de significados, especialmente em relação à sensibilidade ecológica. O autor, aliás, é criador também dos desenhos em longa metragem A Viagem de Chihiro e Castelo Animado, sendo o primeiro premiado com o Oscar. Pra molecada nenhuma botar defeito. Para as meninas da mesma faixa etária outro gibi pode garantir o sorriso da tampinha nesse Natal: Luluzinha - Menina não Entra?! (Devir, R$ 23). Tremendo clássico dos quadrinhos, Luluzinha (Little Lulu no original) é a travessa menina que não aceita os desígnios de seu antagonista, o tão famoso quanto a própria, Bolinha, e seu notório clube. Encadernadas na edição estão diversas histórias desta que pode ser considerada a precursora do feminismo. ´Entendidos´ Para presentear um conhecedor de quadrinhos: desafio de nível avançado, qualquer uma das revistas e livros acima vão contentar o sujeito. Ele pode até torcer o nariz se for ganhar alguma delas mas secretamente vai gostar bastante. Mas se você quer mesmo impressionar ainda há esperança. Dois lançamentos dos últimos meses da Panini são clássicos das Histórias em Quadrinhos: LJA e Vingadores - Edição Definitiva (Panini, R$ 39) e Grandes Clássicos da DC n. 9 - Alan Moore (Panini, R$ 36,90). A primeira mostra um confronto entre os super-grupos de heróis das duas maiores editoras de quadrinhos americanas, DC e Marvel no seu período áureo na década de 80 desenhada por George Perez. O que torna a edição especial é sua raridade: por anos sua publicação foi impedida por questões de direitos autorais. Já Grandes Clássicos n. 9 é um vislumbre da genialidade de Alan Moore, escritor favorito de nove entre dez apreciadores de quadrinhos. As histórias de Moore são, seguramente, as mais amarradas, bem montadas e controversas narrativas que já chegaram nas mãos de leitores. Deleite criativo puro, não apenas essa, mas qualquer obra de Alan Moore é garantia de sucesso na empreitada de satisfazer o ?expert?. Se você sentir que o gosto do sujeito não está lá muito para super-heróis uma boa saída pode ser Preacher - A Caminho do Texas (Devir, R$ 45) e Preacher - Até o Fim do Mundo (Devir, R$ 45). Se existe alguém que está longe de ser um herói é Jesse Custer, protagonista das duas HQs. Custer é um pastor texano que se transforma no hospedeiro da entidade Gênesis, fruto bastardo de um anjo e demônio cujo nascimento é a prova do fim dos tempos. Custer se dá conta que por causa de Gênesis é capaz de obrigar as pessoas o obedecerem por meio de sua palavra. O pregador parte numa desvairada viagem pelos Estados Unidos em busca de ninguém menos que o Criador. Seus acompanhantes são uma ex-namorada que virou assassina de aluguel e um vampiro irlandês beberrão, seu melhor amigo. Preacher é violento, mordaz, moralmente ácido e por isso mesmo, excitante. Mais opções Outras obras que certamente vão fazer estante motivo de orgulho é qualquer edição de Corto Maltese de Hugo Pratt (Pixel, R$ 33), O Fotógrafo - Uma História no Afeganistão de Didier Lefevre e Emmanuel Guibert (Conrad, R$ 46) e Valentina - 65-66 de Guido Crepax (Conrad, R$ 55). Se nem assim, você, exausto Papai Noel, conseguir satisfazer esta aberração da existência que é um quadrinheiro compulsivo só resta uma alternativa. O tesouro da biblioteca de Alexandria, o Fort Knox da ficção, a morena de olhos azuis e papel coucher, Santo Graal dos quadrinhos, Miracleman. Imagine se um Super-Homem ou Capitão Marvel existisse de verdade. Imagine se ele levasse a sério a idéia de salvar a humanidade. Imagine se ele desaparecesse por anos e seu ajudante adolescente crescesse sem a devida educação. Isso e muito mais é Miracleman. Divisor de águas sobre o que define um super-herói, nas mãos de Alan Moore, Miracleman se transforma no ditador do planeta Terra alçando a humanidade à verdadeira condição de übermensch, conceito de ?super-homem? do filósofo alemão Friedrich Nietzche. Agora, se fosse fácil nada teria valor. As revistas de Miracleman estão num limbo de direitos autorais há mais de uma década. Todas as editoras tentam republicá-lo sob seu selo, o que aparentemente não vai acontecer no futuro próximo. O único lugar que seguramente você pode encontrar suas edições em volumes encadernados e bem cuidados é na Comic Hunter (Rua Cardeal Arcoverde, 370). Antes que o ânimo fique muito exaltado sedento pelo ouro em gibi, tenha em mente seu preço: R$ 300 cada edição. Melhor do que uma gravata.

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