Nas telas, um idioma musical

'E Agora, Aonde Vamos?', da cineasta libanesa Nadine Labaki, explora o vigor da fala arábica

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Foto do author Luiz Zanin Oricchio
Por Luiz Zanin Oricchio
Atualização:

Continua em cartaz um filme que testemunha bem a poética da língua árabe, sobretudo em sua vertente feminina. Trata-se de E Agora, Aonde Vamos?, da diretora libanesa Nadine Labaki. Uma cineasta da qual já conhecíamos a sutileza por seu trabalho anterior, Caramel, um olhar feminino, a partir de um salão de cabeleireira, lançado sobre a realidade nada animadora de uma sociedade patriarcal.

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De certa forma, em Caramel, Nadine, que dirige e atua, permanecia no âmbito da intimidade, embora se possa, perfeitamente, como ela própria lá fazia, falar da sociedade como um todo, ainda que a partir do microcosmo de um salão de beleza. Mas, nesse filme em forma de pergunta - E Agora, Aonde Vamos? -, Nadine decide enfrentar a questão crucial do seu mundo, a guerra, agora sem qualquer desvio ou subterfúgio.

Tanto assim que o filme começa com um grupo de mulheres formando um estranho cortejo de luto. Algumas levam uma cruz, outras portam véus.

Fazem uma visita ao cemitério, e cada uma delas carrega uma foto do seu homem, marido, filhos ou pais, mortos numa guerra civil estúpida, que se “justifica” (como se justificativa houvesse) pela diferença de religiões. De tal forma, que, na saída do cemitério, o cortejo se divide em dois. Para um lado vão as cristãs enlutadas; para o outro, as muçulmanas.

O restante desse filme, tão dramático como divertido, será a tentativa desse criativo grupo de mulheres em engabelar seus homens de modo que eles encontrem outros derivativos que não a destruição mútua. Tarefa árdua, em especial numa cultura da vendetta, acirrada ainda por querelas religiosas. É curioso que, com esse entrecho, o filme, sem ser um musical, seja pontuado de maneira marcante pela música. Não apenas pela sensorialidade da língua árabe, mas pelo caráter pungente e emocionante de sua música. É nesses momentos em que a concórdia entre facções parece mais palpável e ao alcance do entendimento humano.

A música e a fala são poderosas armas simbólicas quando usadas para combater as armas propriamente ditas.

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